terça-feira, 20 de outubro de 2015

O QUE É CULTURA?






 “Quando dizemos que “simplesmente não falamos a mesma língua”, referimo-nos a algo mais geral: temos valores imediatos ou diferentes tipos de valoração, ou temos consciência, às vezes de maneira intangível, de formações e distribuições diferentes de energia e interesse”. (WILLIAMS, 2007, p.28)








Quando alguém usa a palavra cultura, a que realmente está se referindo?

Cultura [culture] é uma das duas ou três palavras mais complicadas da língua. Isso ocorre em parte por causa de seu intricado desenvolvimento histórico em diversas línguas europeias, mas principalmente porque passou a ser usada para referir-se a conceitos importantes em diversas disciplinas intelectuais distintas e em diversos sistema de pensamento distintos e incompatíveis.

A p.i. é o latim cultural, da p.r. colere. Colere tinha uma gama de significados: habitar, cultivar, proteger, honrar com veneração. Alguns desses significados finalmente se separaram nos substantivos derivados, embora ainda haja superposições ocasionais. Dessa maneira, “habitar” desenvolveu-se do latim colonus até chegar a colony [colcônia]. “Honrara com veneração” desenvolveu-se do latim cultus até chegar a cult [culto]. Cultura assumiu o sentido principal de cultivo ou cuidado, incluindo, como em Cícero, cultura animi, embora com significados medievais subsidiários de honra e adoração. [...] O sentido primordial referia-se, então, a lavoura, isto é, o cuidado com o crescimento natural.

Em todos os primeiros usos, cultura era substantivo que se referia a um processo: o cuidado com algo, basicamente com as colheitas ou com os animais. [...] A partir do S16, o cuidado com o crescimento natural ampliou-se para incluir o processo de desenvolvimento humano e este foi o sentido principal até o início do S19 [...]. Em diversos momentos do desenvolvimento, ocorreram duas mudanças cruciais: Em primeiro lugar, certo grau de adaptação à metáfora, que tornou direto o sentido de cuidado humano; em segundo lugar, uma extensão dos processos específicos ao processo geral, que a palavra poderia carregar de modo abstrato. Naturalmente, é a partir deste último desenvolvimento que o substantivo independente cultura iniciou sua complicada história moderna, mas o processo de mudança é tão intricado, e os sentidos latentes às vezes se aproximam tanto, que não é possível afirmar uma data definitiva.  

No francês, até o S18, cultura estava relacionada ao conceito de civilização. Seu principal uso era, então, como sinônimo de civilidade: primeiro no sentido abstrato de um processo geral de tornar-se “civilizado” ou “cultivado”; segundo no sentido que já fora estabelecido para civilização pelos historiadores do Iluminismo, como uma descrição do processo secular de desenvolvimento urbano. Então, Herder introduziu uma mudança decisiva de uso, escrevendo, a respeito de Cultur: “nada é mais indeterminado que essa palavra e nada mais enganoso que sua aplicação a todas as nações e a todos os períodos”. 

 (Referência: WILLIAMS,  Raymond. Palavras-Chave: um vocabulário de cultura e sociedade. SP: Boitempo, 2007).

E você, quando fala de cultura refere-se a que, afinal? Vamos problematizar? O que é cultura?

Fonte: http://culturadetravesseiro.blogspot.com.br/2015/10/o-que-e-cultura.html?utm_source=feedburner&utm_medium=feed&utm_campaign=Feed:+CulturaDeTravesseiro+(Cultura+de+Travesseiro)

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