sexta-feira, 28 de agosto de 2015

O Conflito no Ambiente Escolar


Resumo: O presente artigo pretende analisar a dimensão positiva de conflito no ambiente escolar para o desenvolvimento pessoal e no processo de aprendizagem. O problema do conflito, existe desde a constituição das comunidades primitivas. Para Kurt Lewin, o conflito pode ser definido como embate entre forças ou valências opostas e de intensidade idênticas. Neste contexto é fundamental entender o que é um conflito, a sua origem, as reacções que ocorrem no organismo quando se vive situações conflituosas, o desequilíbrio que provoca no processo de ensino aprendizagem.
Palavras-Chave: Conflito, grupo, Escola, Extroversão, introversão

Introdução

O homem, enquanto ser social, desenvolve suas habilidades e competências em contacto direito com seus membros; dessa convivência surgem os conflitos, as divergências, as competições tanto leais como desleais. Ele naturalmente é propenso a viver junto com os outros e a comunicar-se com eles, torná-los participantes das próprias experiências e dos próprios desejos, conviver com eles as mesmas emoções, já Aristóteles, apud Mondin dizia:
O homem é por natureza, um animal social. Aquele que, por natureza, não possui sociedade é superior ou mesmo inferior ao homem, quer dizer ou é um Deus ou mesmo uma besta. (P.154)
O homem é essencialmente sociável, sozinho não pode satisfazer suas necessidades mais elementares nem realizar as suas aspirações mais elevadas, ele pode obter tudo isso apenas em companhia dos outros. Na sua convivência do dia-a-dia estabelece relações interpessoais ou sociais, desde as épocas mais remotas. Nesta vertente, CONTRIM descreve:
Das primeiras comunidades as sociedades civilizadas, as relações sociais sofreram grandes mudanças. Nas comunidades primitivas as relações sociais baseavam nos laços de parentesco, nos usos e costumes comuns, na cooperação entre membros de grupo. Nas sociedades civilizadas quase todos esses elementos se modificaram. 

A cooperação foi substituída pela competição social. O acumulo desigual de bens materiais pelos indivíduos passou a diferenciar as pessoas, surgindo então relações de poder entre ricos e pobres. (2003, P.31) 
O conflito como choque de opiniões ou de posições sobre a mesma situação. A relação interpessoal vivida constantemente leva o indivíduo ao estado conflituoso. A reflexão vai cingir-se nos seguintes aspectos:
  • Origem de conflito no ambiente escolar;
  • Áreas de conflito;
  • Tipos de Conflitos
  • Consequências de Conflitos
  • Dimensão positiva de Conflitos.

Objectivo

O objectivo deste artigo é fornecer ao gestor escolar uma ferramenta sobre o que vem a ser o conflito, as possíveis origens; apontar as consequências que podem advir no ambiente escolar e como isto de certa maneira afecta o rendimento dos alunos no processo ensino-aprendizgem e apontar a dimensão positiva do conflito nas relações inter – escolares.

Desenvolvimento

Desde a existência do homem, os grupos através dos tempos, tem sido uma necessidade vivencial e convivencial do ser humano. Pensemos, como poderia um só indivíduo pode desenvolver suas tarefas mais pesadas e complexas sem o auxílio do outro? E a partir desta percepção que os grupos, tribos ou qualquer nome que se dê a junção de seres humanos em convívio, começaram a se formar e com o passar do tempo a se organizar em tribos, sociedades e tantos outros tipos de organizações.
O escopo neste trabalho, não é o de apresentar um estudo histórico do aparecimento e organização dos grupos no mundo, mas, o interesse aqui é justamente procurar compreender como o líder ou Gestor escolar deve operacionalizar e gerir os conflitos no ambiente escolar, que são em especial os professores, alunos e outros os demais funcionários que compõem o colectivo escolar.
No estudo da Psicologia existem várias teorias que procuram definir o conflito. A teoria de LEWIN, adequa-se à presente realidade de pesquisa:
O conflito pode ser definido como embate entre forças ou valências opostas e de intensidade idênticas. (1994, p.14)
Veja por exemplo a aluna Yurilda que chega à sua casa feliz e motivada porque aprendeu a fazer desenhos. O seu ideal é pintar ou fazer gravuras nas paredes da casa. Seu real vem do não pode dos adultos que a rodeia. Ela viverá um conflito. Mas, é preciso que o adulto saiba encaminhar ou educar inteligentemente esse conflito vivido pela criança Yurilda.
Entre as diferentes opiniões dadas aos psicólogos sobre o conflito, Freud, citado por Castro & Santos, manifesta a importância da educação na formação do aluno num ambiente preventivo dos conflitos:

A educação exerce um papel importantíssimo em relação á formação dos alunos. Ela poderá influenciar seu comportamento social de forma positiva ou negativa. Será positiva, á medida que orientar e prevenir os conflitos individuais para que os grupos também possam fluir em seu inter-relacionamento. Será negativo, quando ocorrer os desequilíbrios e não se conseguir promover acções criativas. Estas acções minimizam as tendências e influências negativas do contexto social e auxiliam no fortalecimento da personalidade do indivíduo. (2009, p.14)
Apesar de várias definições sobre o conflito, chegou-se ao consenso de que o profundo sentimento de solidão e desamparo, inquietude, perplexidade na tomada de decisão, a pouca capacidade de concentração nas tarefas a realizar, tristeza acentuada, perda de apetite alimentar, ideias obsessivas são sintomas que se associam ao estado de conflito.
No ambiente escolar, os conflitos com maior incidência têm origem em problemas como:
  1. Falhas na comunicação entre aluno ↔ professores ↔ profissionais de educação ↔ comunidade;
  2. Ausência de actividades de um programa de educação continuada para professores e profissionais da educação – acadêmicos, administrativos e encarregados de educação.
  3. Planeamentos inadequados ao grupo alvo (alunos);
  4. Resistência à mudança no contexto da escola, tanto no aspecto académico como no administrativo;
  5. Líderes com acentuado índice de autoritarismo.
  6. Desigualdade social entre alunos, professores e outros membros da comunidade escolar.
No ambiente escolar é constante o aluno manifestar comportamento que crie conflito na sala de aula. Segundo MACHADO (2004), o conflito surge com bastante frequência de duas formas:
  1. Em situações de crise de oposição
  2. Em dinâmicas conturbadas ou turbulentas (comummente chamadas de indisciplina)
Quanto a primeira forma, muitas das vezes essas situações são confundidas pelo professor ou profissional de Recursos Humanos como falta de respeito do aluno ou funcionário ao ter um comportamento de oposição ao passo que as situações de dinâmicas conturbadas ou turbulentas são caracterizadas pela agitação total de choque entre a postura rígida do professor e a atitude inquieta dos alunos ou funcionários.
Todos esses aspectos aqui delineados fazem com que os conflitos se proliferem e as reacções emocionais aflorem nas instituições ou nos estabelecimentos de ensino. Todos os profissionais que trabalham directamente com pessoas precisam ter conhecimentos básicos quanto a origem de conflitos no ambiente escolar; as condições psicológicas que envolvem o indivíduo em convívio social. Seja em família, no trabalho ou em qualquer concentração social. É por isso, que cabe aos profissionais de educação, estarem atentos aos estudos mais recentes da psicologia das Relações Humanas e a operacionalização e gestão de conflitos no ambiente escolar.
Segundo NANSCIMENTO, os conflitos podem ser divididos em duas áreas:
1- Conflito Social – é de reconhecer que hoje, se vive numa sociedade altamente evoluída do ponto de vista social e tecnológico, mas bastante precária em termos de capacidade para negociações. E a violência tem sido no decorrer da história da humanidade, um dos instrumentos mais utilizados para resolver conflitos.

2- Conflitos tradicionais - são aqueles que reúnem indivíduos ao redor dos mesmos interesses, fortalecendo a solidariedade.(2002, p.47)
Os conflitos aparecem por três razões essenciais: pela competição entre as pessoas; pela divergência de alvos entre as partes e pelas tentativas de autonomias ou de libertação de uma pessoa em relação a outra.
Podem ser entendidos ainda como fontes de conflitos: direitos não atendidos ou não conquistados, mudanças externas e espontâneas, ansiedades e medo, luta pelo poder, exploração de terceiros (manipulação), carência de informação, grupinhos de cochicho, insubordinação, mau ambiente no trabalho, necessidades individuais não atendidas, divergências de objectivos, esforço não valorizado, diferenças culturais e individuais, obrigatoriedade de consenso, entre outras.
Como já referido no princípio, que o título desse artigo tem maior impacto no campo psicológico. O conflito no ambiente escolar influencia de forma significativa o ritmo normal da vida não só do aluno, mas também do professor, do administrador e demais funcionários para uma aprendizagem eficaz e funcionamento equilibrado.
Os estudos feitos pelo NASCIMENTO, sobre o conflito revelam que, existem vários tipos de conflito que se sintetizam em quatro:
1- Conflito Latente - não é declarado e não existe uma clara consciência da sua existência 
2-Conflito Percebido - os elementos envolvidos percebem racionalmente, a existência de um conflito, embora não haja ainda manifestações abertas do mesmo.
3-Conflito Sentido – já atinge ambas as partes, há emoção de forma consciente.
4-Conflito manifesto – este conflito já atingiu ambas as partes, já é percebido por terceiros e pode interferir na dinâmica da organização.(Ibiden, p.83)
Na medida em que se diversificam os tipos de conflitos, também se diferem as consequências para o aproveitamento do aluno. Dentre os vários aspectos do conflito, alguns podem ser considerados como negativos e aparecem com frequência dentro das organizações.
Quando o indivíduo em conflito, desvia a atenção dos reais objectivos, colocando em perspectiva os objectivos dos grupos envolvidos no conflito, mobilizando os recursos e os esforços para a sua solução ou ainda quando tornam a vida numa derrota, caracterizados pela desmotivação, inibição, solidão, desinteresse, desistência, etc…
Portanto, o indivíduo em estado de conflito, apresenta algumas atitudes: 
  • Extroversão (comunicativo)
  • Introversão (calado)
O aluno ou indivíduo extrovertido ou introvertido, não significa que está ou não satisfeito com o embate (choque), somente as características individuais do comportamento podem determinar se o aluno ou indivíduo em conflito está ou não satisfeito. No entanto, concluiu-se que depois do choque ou conflito, a extroversão ou a introversão não determina a motivação ou a desmotivação do indivíduo em conflito, mas sim, depende das características motivacionais e comportamentais apresentadas.
Perante a realidade de conflito, é possível pensar inúmeras alternativas para indivíduos e grupos lidarem com os conflitos. Estes podem ser ignorados ou abafados ou ainda sanados e transformados num elemento auxiliar na evolução de uma sociedade ou organização, ao observar a história:
 
Até há pouco tempo a ausência de conflitos era encarada como expressão de bom ambiente, boas relações e no caso das organizações, como sinal de competência. (NASCIMENTO, SAYED, 2002, p.47)
Alguns Profissionais viam o conflito somente de forma negativa, como resultante da acção e do comportamento de pessoas indesejáveis, associado à agressividade, ao confronto físico e verbal e aos sentimentos negativos, os quais eram considerados prejudiciais ao bom relacionamento entre as pessoas e consequentemente ao bom funcionamento das organizações.

Conclusão

Ficou claro que o conflito tanto nos grupos sociais como escolares é inevitável na medida em que a sua origem se dá no intercâmbio existencial entre indivíduos que formam a mesma sociedade.
Seja ele de área social como tradicional, percebido no aspecto positivo ou negativo, afecta em maior ou menor proporção a vida e o desenvolvimento estudantil, o intento é de mostrar quão é prejudicial no ambiente escolar, controlá-lo de forma a ajudar a comunidade escolar os conflitos mais comuns nas escolas, a sua origem e ter a capacidade de lidar com as situações conflituosas do dia-a-dia nas escolas e diminuir os efeitos de tipo manifesto que são mais prejudiciais no desenvolvimento intelectual do aluno.
Para um entendimento mais preciso sobre a dinâmica dos conflitos, deve-se ter uma visão mais abrangente de suas inúmeras possibilidades, pois, para algumas pessoas o termo conflito pode ocasionar um medo intenso, no entanto, se faz necessário reconhecer que existe um modo destrutivo e outro construtivo de proceder.
Na diferença em se tratar o conflito pode estar o sinal do saudável, podendo se fazer representar por duas possibilidades para uma acção mais efectiva, uma negativista, que percebe o conflito como algo prejudicial, devendo ser evitado a todo custo, e a segunda alternativa é trabalhá-lo, procurando os benefícios que as diferenças de opiniões e os posicionamentos contrários podem gerar a nível de aprendizagem pessoal e profissional. Isto quer dizer, que no dia-a-dia vive-se o conflito de diferentes maneiras: quantas vezes as pessoas não atravessam esse ou aquele caminho, dificultando o alcance de diferentes objectivos. Assim, o conflito não deve ser visto apenas como impulsionador de agressões, disputas ou ataques físicos ou verbais, mas como um processo que começa na percepção e termina com a doação de uma acção adequada e positiva:  
O conflito é fonte de ideias novas, podendo levar a discussões abertas sobre determinados assuntos, o que se releva positivo, pois, permite a expressão e exploração de diferentes pontos de vista, interesses e valores. (Ibdem, p.47)
De facto, a dimensão positivista de conflito, caracteriza-se pela auto-estima, motivação, persistência, continuidade, novos projectos, equilíbrio psicológico e social, etc…

Fonte: http://psicologado.com/atuacao/psicologia-escolar/o-conflito-no-ambiente-escolar

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