sexta-feira, 17 de abril de 2015

Comunicação: Um Problema Na Escola Pública

Por Prof. Maurício Apolinário 
O sistema educacional brasileiro vive, atualmente, uma de suas piores crises, e isso se deve, em grande parte, a falhas na comunicação entre as partes envolvidas, a distorções das teorias, métodos e técnicas implantados durante as inúmeras mudanças empreendidas nas últimas décadas. E um triste fato que comprova isso é que, conforme informa Zagury (2006), ao final da 4ª série do Ensino Fundamental, com quatro anos de escolarização, mais da metade dos alunos continua mal sabendo ler e fazer cálculos matemáticos básicos, e cerca de 40% dos alunos concluem a 8ª série praticamente analfabetos e sem o domínio dos instrumentos mínimos necessários para conseguir um emprego de contínuo. Um grande exemplo de que a boa comunicação é uma base sólida para o sucesso de um empreendimento é a construção de uma cidade e da Torre de Babel. "Em toda a terra havia apenas uma linguagem e uma só maneira de falar" (Gênesis 11:1). Todos se entendiam e buscavam um único objetivo. Mas, por outro lado, o mesmo exemplo serve para mostrar o oposto disso, ou seja, quando se "confundiu" a linguagem desse povo, quando barreiras de comunicação predominaram e todos falavam, mas ninguém entendia ninguém, eles se dispersaram, e o projeto ficou abandonado.
Temos vivido muito isso em nossa educação. A "linguagem" falada nas escolas nem sempre é a mesma. As barreiras de comunicação estão interferindo bastante no que se refere ao bom desempenho do projeto político-pedagógico, tanto nas atividades-meio quanto nas atividades-fim.
Tudo começa com as inovações apresentadas, a cada governo, como as melhores e as mais eficazes, mas muitas vezes distorcidas e mal aplicadas nas escolas devido à escassez ou inexistência de treinamento docente adequado, antes da implantação. Visto que a comunicação de como aplicar as novas mudanças e as novas linhas teórico-pedagógicas é falha ou nula, cada profissional as executa da maneira que interpretou ou consegue executar. Segundo Zagury (2006), muitos erros ocorreram e continuam a ocorrer devido à compreensão equivocada e à informação superficial das novas metodologias, bem como das novas técnicas, que rapidamente se distanciam dos propósitos dos autores. Esse é um dos grandes motivos de a educação no Brasil estar em declínio a cada governo que passa.
Outro fator é a falha na comunicação entre a direção e as coordenações, de ambos para com os professores, e também entre estes. Alguns não conseguem se fazer entender; uns interpretam de modo distorcido o que lhes foi dito; outros permeiam o entendimento com as próprias emoções, distorcendo as informações ou ouvindo somente o que lhes interessa. Há também o filtro da cultura, do meio social e familiar, das crenças. Infelizmente, temos que citar aqui também o descrédito em relação á eficiência do outro, seja colega ou superior. Como uma organização, a escola é um aglomerado de grupos. Cada pessoa que nela trabalha ou estuda faz parte de um grupo. Vimos que, se não houver clareza de objetivos e coesão, a eficácia do grupo estará comprometida, uma vez que a comunicação é de fundamental importância para seu desempenho. O mesmo ocorre entre os vários grupos que a compõem. Se houver falha na comunicação entre coordenadores e professores, tendo uns dificuldades de expressão e outros dificuldades de interpretação, conseqüentemente boa parte do trabalho estará comprometida. A coesão de uma equipe técnico-pedagógica, segundo Zagury (2006), é requisito importante para a obtenção de resultados efetivos em Educação. E essa coesão se consegue quando as decisões pedagógicas finais são fruto de reflexão, análise crítica e decisões conjuntas, nas quais o professor é parte ativa.
Mas como ser coerente e coeso tendo cada um seu ponto de vista? Como refletir e tomar decisões conjuntas se esses mesmos pontos de vista forem impostos, muitas vezes, tidos como os únicos corretos, e não se compreende ou não se faz nenhuma questão de compreender o pensamento do outro? Infelizmente, isso tem ocorrido freqüentemente na maioria de nossas escolas públicas.
Em seu livro A segunda criação, Ian Wilmut (Editora Objetiva), geneticista britânico e um dos criadores da ovelha clonada Dolly, afirma que os genes mantêm um diálogo ininterrupto com o resto da célula, a qual se comunica com outras células do corpo; estas, por sua vez, mantêm contato com o ambiente externo. Esse diálogo, que controla o desenvolvimento do organismo, ocorre desde sua geração e prossegue posteriormente ao nascimento. Se houver falha nessa comunicação, ocorrerá um descontrole nos genes e um crescimento desordenado das células. O resultado, segundo ele, é o câncer.
Se uma escola, como uma empresa, é um organismo vivo, o seu sucesso dependerá do diálogo estabelecido entre os vários grupos e pessoas que a compõem. Se essa comunicação não se processar corretamente, o resultado será a má qualidade do ensino-aprendizagem, o câncer da educação.
Um terceiro fator é o que envolve o corpo docente, afetando de modo direto o ensino aprendizagem. Tiba (2006) afirma que um dos grandes motivos de o aluno ser reprovado nas provas é não conseguir entender a matéria que um professor apenas expressou. Expressar, segundo ele, é simplesmente exteriorizar o conteúdo de quem fala, enquanto que transmitir significa conseguir comunicar para fazer-se entender pelo outro.
Muitos professores que estão na sala de aula das escolas públicas hoje não sabem se expressar bem e muito menos se comunicar e transmitir informações. A má qualidade de comunicação tornou-se um dos principais problemas que atingem as salas de aula.
Na maior parte do tempo, o professor faz uso da retórica, passando uma grande quantidade de conteúdo em curto espaço de tempo, em detrimento da dialética, que pressupõe a existência do diálogo, do debate, uma vez que, conforme atesta Zagury (2006), a responsabilidade da aprendizagem também é uma função do aluno.
Não poucos professores, além de não dominarem o conteúdo de sua disciplina (já fruto da defasagem educacional ao longo dos anos, incluindo os cursos de graduação), não conseguem transmiti-lo, fazendo-se entender pelos alunos, e, às vezes, nem mesmo conseguem se expressar muito bem. Outros, abusando da retórica, esbanjam o seu saber, falando e falando, mas nem sempre com simplicidade de palavras e clareza. A informação não se torna conhecimento e muito menos experiência para o aluno. O professor, ao invés de perguntar aos alunos "Vocês entenderam?", deveria perguntar "Eu me fiz entender?".
Segundo Maximiano (2004), existe um princípio de comunicação retratado na idéia de que "para ensinar matemática a alguém, é preciso conhecer muito bem tanto a matemática quanto esse alguém". O professor, portanto, não somente deve ter domínio da disciplina e transmitir bem o seu conteúdo, mas também, no ponto de vista de Tiba (2006), ter a capacidade de se adaptar às características do aluno, visando, como único objetivo, o aprendizado. Mas como conhecer bem o aluno com salas de aula tão cheias e com uma carga horária estressante?
O quarto e último fator refere-se aos alunos. Tiba (2006) afirma que qualquer aluno que deseja aprender de verdade aprende com professores, sem professores ou apesar dos professores. Concordo em parte, pois nem todos os indivíduos são autodidatas. O aprender depende muito da vontade do aluno.
Nesse caso, além das várias barreiras de comunicação, destacam-se duas. A primeira é a desatenção por parte do receptor, ou seja, do aluno. Trata-se daquele aluno ausente de corpo presente. Ouve o que o professor explica, mas sua atenção está voltada para outras coisas, inclusive tarefas de outras disciplinas. A segunda é o excesso de mensagens que disputam a atenção do aluno. Mais para o adolescente do que para a criança, mas não isentando esta, a gama de informações que o mundo hoje oferece é intensa, e, geralmente, mais interessantes para o aluno do que a matéria ministrada pelo professor na sala de aula. Assim, surgem conversas paralelas, manuseio de revistas, utilização dos vários recursos oferecidos pelo celular, etc.
O resultado dos quatro fatores expostos é único: não efetivada a comunicação devido ás interferências, a aprendizagem está comprometida.    

Fonte:  http://www.webartigos.com/artigos/comunicacao-um-problema-na-escola-publica/6448/

Comunicação e Linguagem na sala de aula - PNL para professores

Entenda como a PNL pode ajudá-lo a se comunicar melhor com 

seus alunos. Descubra como você envia mensagens inconscientes

aos seus alunos. O que são mensagens não-verbais e como elas 

afetam a qualidade da sua comunicação.

Nós colhemos muito mais informações da linguagem corporal e do tom de voz de uma pessoa do que das palavras que ela diz. As mensagens que nós enviamos por meio da nossa postura corporal, tom de voz, gestos e expressões correspondem ao que chamamos comunicação não-verbal.
Para a PNL (programação neurolinguística), a comunicação é tão não-verbal e inconsciente quanto é verbal e consciente. Ou seja, nas nossas interações com as pessoas, passamos muita informação por outros meios além das palavras. Essas informações são captadas pelas pessoas que, a partir delas, criam suas representações internas e reagem a elas.
Segundo o pesquisador da Universidade da CalifórniaAlbert Mehrabian, 55% das informações que as pessoas recolhem de você são obtidas de sua linguagem corporal, 38% do tom de sua voz e apenas 7% das palavras que você diz.
Com os alunos não acontece diferente. Durante uma aula, as informações visuais e cinestésicas se sobrepõem às verbais. Os alunos recolhem muito mais informações da postura e do gestual do professor do que propriamente do conteúdo de suas palavras.
"O que você é fala tão alto, que não consigo ouvir o que você está dizendo." (Ralph Waldo Emerson) 
Embora essas porcentagens mudem dependendo da situação, é importante que tenhamos consciência de que estamos fornecendo informações aos nossos alunos o tempo todo, sobre o que pensamos a respeito deles, quem somos, nosso trabalho, a escola, o assunto tratado.
  Isso significa que muitas das nossas crenças, valores, julgamentos são percebidos pelos nossos alunos, mesmo que não expressemos essas mensagens na forma de palavras.
Você, professor, está seguro de que realmente vem transmitindo aos seus alunos as mensagens que gostaria? Tem consciência do teor das informações não-verbais que emite por meio da sua linguagem corporal? Consegue avaliar o efeito que essas mensagens não-verbais têm sobre os seus alunos?
Quando as mensagens verbais e não-verbais são contraditórias, confundimos nossos alunos que, normalmente, dão mais peso aos sinais não-verbais que às mensagens verbais.
Dependendo do estilo de aprendizagem do aluno (visual, auditivo ou cinestésico) mensagens contraditórias podem criar distrações ou má interpretação da mensagem, com prejuízos ao processo de ensino-aprendizagem.
É o caso de uma professora que, ao ser questionada pelos alunos sobre o assunto que estava ensinando, assumia a postura de braços cruzados e dava um jeito de se colocar atrás da mesa quando lhes respondia a questão. Aquela postura era entendida inconscientemente pelos alunos como insegurança, falta de precisão no conhecimento e medo de se expor. Com o tempo, os alunos pararam de fazer perguntas e as aulas tornaram-se monólogos entediantes que só poderiam ter gerado um resultado: o nível de aprendizagem da turma caiu cerca de 60%.
Esse caso é apenas um dos inúmeros exemplos que revelam como a linguagem não-verbal afeta as reações dos alunos em relação ao professor e interferem grandemente nos índices de aprendizagem.

Os 4 princípios da Comunicação

Segundo os pesquisadores de linguagem corporal Pierre Weil e Roland Tompakow, há quatro princípios básicos que devemos levar em conta sempre que estivermos nos comunicando com alguém:
1) Os componentes verbais e não-verbais da comunicação podem estar em acordo ou desacordo;
2) É possível discernir quais componentes da mensagem um indivíduo decide conscientemente exteriorizar e quais deles o indivíduo decide consciente ou inconscientemente ocultar;
3) A percepção e a reação que o receptor tem de todos os componentes da mensagem pode ocorrer de forma consciente ou inconsciente.
4) Quando há acordo entre os componentes verbais e não-verbais de uma mensagem, fica confirmada a crença do emissor na verdade que está exteriorizando. Quando há discordância entre os elementos verbais e não-verbais de uma mensagem, fica revelada a oposição reprimida do emissor à ideia que está sendo exteriorizada.
Considere essas quatro regras básicas da gramática da comunicação quando estiver falando aos seus alunos. Preste atenção nos seus gestos, na postura do corpo, na entonação da voz e demais sinais não-verbais que está emitindo. E se eles estão em acordo ou desacordo com os conceitos e valores que pretende ensinar.
Um ajuste entre componentes verbais e não-verbais durante uma aula, buscando concordância entre essas partes pode fazer grande diferença não só no aprendizado da turma, bem como no nível de relacionamento interpessoal que você estabelece com seus alunos.
Além da comunicação na sala de aula, a liderança também é um fator que determina o sucesso no processo da aprendizagem, sugiro a leitura do artigo Como um Professor pode se tornar um Líder na Sala de Aula onde ensino quais são as habilidades que um professor deve desenvolver para se tornar um líder junto aos alunos.
Fonte: http://www.esoterikha.com/coaching-pnl/comunicacao-e-linguagem-na-sala-de-aula-pnl-para-professores.php

terça-feira, 14 de abril de 2015

Vygotsky e o Papel das Interações Sociais na Sala de Aula: Reconhecer e Desvendar o Mundo



Refletir sobre a importância das trocas entre os parceiros como momentos significativos no processo ensino-aprendizagem remete, necessariamente, à psicologia sócio-histórica como paradigma de nossas reflexões. Cabe lembrar, dentro do espectro de reflexões que esta psicologia sugere, os objetivos e as finalidades que, acredita-se, deva ter a ação educativa. Temos por pressuposto de nosso trabalho a meta maior de, inseridos no contexto em que vivemos e na realidade manifesta em nosso país, criar condições para que os alunos se tornem cidadãos que pensem e atuem por si mesmos. Acima de tudo, espera-se que eles sejam pessoas livres de manipulações e conduções externas e que consigam ter a capacidade de pensar e examinar criticamente as idéias que lhes são apresentadas e a realidade social que partilham. Este movimento de compreensão do mundo que aparece dialeticamente na escola implica ações de investigação e de discussão para a internalizaçâo de funções mentais que garantam ao indivíduo a possibilidade de pensar por si. Para tanto é preciso estimulá-lo a operar com idéias, a analisar os fatos e a discuti-los para que, na troca e no diálogo com o outro, construa o seu ponto de regulação para um pensar competente e comprometido com determinadas práticas sociais. 

A elaboração de idéias e o estudo de fatos conforme sugerimos garantem a conquista do conhecimento, desde que as atividades propostas para os alunos tenham por base as interações entre sujeito e objeto (mundo). Tais interações permitem ao sujeito ultrapassar a impressão inicial das idéias que lhe chegam e buscar o que está além delas, oculto, mais profundo e sistematizado, de forma a instrumentalizá-lo para o exame da realidade. Não é possível, no entanto, abordar a relação entre sujeito e objeto que se desenvolve na escola sem discutir seu papel enquanto promotora do conhecimento. Pedagogicamente, as discussões sobre a função da escola e seu papel dentro da sociedade tomaram caminhos diversos nos últimos anos e, principalmente, a partir da década de 80, quando vários estados da Federação passaram a ser governados por partidos menos autoritários e quando algumas secretarias de estado da Educação como a de São Paulo, universidades e educadores em geral recolocaram a discussão sobre as funções crítica e libertadora da Educação. Os entraves colocados pela burocracia estabelecida nas redes públicas pelos regimes militares motivaram muitas celeumas, e o professor foi, desde então, pressionado a rever a sua prática e a avaliar os resultados com seus alunos. Assim, nos últimos anos, muito se falou da formação do professor e do quanto nossa sociedade ainda não teria percebido a urgência desta questão do preparo para o exercício competente da tarefa de educar. O atraso nas disposições práticas que pretendem formar o professor torna-se um problema mais grave quando notamos que o mundo atual pauta sua organização social e cultural pelo reconhecimento da importância de informar e divulgar conhecimento. Estranho paradoxo: o mundo da globalização precisa difundir suas conquistas tecnológicas mas não é capaz de solucionar o entrave em que se chegou quando se afirma a urgência de capacitar professores para educar, dilema que se amplia e agrava quando o país em questão pertence ao chamado mundo dos "países atrasados". Coloca-se, novamente, um problema central: o avanço da tecnologia não tem contrapartida na vida cotidiana dos cidadãos e, entre estes, os professores e alunos envolvidos na realidade da Escola Pública, onde grande parte dos membros da comunidade escolar não tem acesso às novas conquistas da tecnologia. Note-se que não nos estamos referindo à televisão ou ao rádio, meios de comunicação de massa que há muito pertencem à vida diária dos brasileiros. O que causa estranhamento é notar a confecção de livros e material didático a partir de sofisticados softwares de autoria quando a maior parte dos alunos e professores não possui o seu microcomputador em casa. O mundo pode ser conectado via Internet e muitos dos nossos alunos saem da escola para enfrentar o mercado de trabalho antes de completar o 1°- Grau. Talvez existam mesmo aqueles que se comprazem com tal situação, tema que extrapola os objetivos deste artigo, mas pretendemos aqui reforçar a possibilidade de discutir criticamente este quadro por meio da ação consciente de professores capazes de promover interações em suas salas de aula. Ora, tal descompasso nos reconduz ao mundo das políticas públicas para a Educação no Brasil. Quando nos defrontamos com estatísticas de reprovação, reeditamos as nossas velhas preocupações sobre o papel da escola e o que ela tem feito com os seus alunos, sobre como trabalhar com esta realidade e como conseguir resultados mais satisfatórios. Das tendências atuais, uma que nos parece melhor colaborar para esta reflexão é a psicologia sócio-histórica, e, dentro dela, as práticas sociointeracionistas são as que acenam para caminhos diferentes daqueles propostos pela escola mais tradicional.

A Constituição Social do Homem 

A psicologia sócio-histórica traz em seu bojo a concepção de que todo Homem se constitui como ser humano pelas relações que estabelece com os outros. Desde o nosso nascimento somos socialmente dependentes dos outros e entramos em um processo histórico que, de um lado, nos oferece os dados sobre o mundo e visões sobre ele e, de outro lado, permite a construção de uma visão pessoal sobre este mesmo mundo. O momento do nascimento de cada um está inserido em um tempo e em um espaço em movimento constante. A história de nossa vida caminha de forma a processarem todos uma história de vida integrada com outras muitas histórias que se cruzam naquele momento. Como seres humanos e, portanto, ontologicamente sociais, passamos a construir a nossa história só e exclusivamente com a participação dos outros e da apropriação do patrimônio cultural da humanidade. Temos assim um movimento de constituição do Homem que passa pela vivência com os outros e vai-se consolidar na formação adulta de cada um de nós. A criança e o adulto trazem em si marcas de sua própria história - os aspectos pessoais que passaram por processos internos de transformação -, assim como marcas da história acumulada no tempo dos grupos sociais com quem partilham e vivenciam o mundo. Assim, o indivíduo transforma-se de criança em adulto processando internamente, por meio de seu livre-arbítrio, as diversas visões de mundo com as quais convive. Toda esta discussão com certeza tem em VYGOTSKY e em outros psicólogos russos a sua origem, e seu aprofundamento vem sendo feito à luz de experiências especialmente do campo educacional.
Na teoria sociointeracionista de VYGOTSKY, encontramos uma visão de desenvolvimento humano baseada na idéia de um organismo ativo cujo pensamento é constituído em um ambiente histórico e cultural: a criança reconstrói internamente uma atividade externa, como resultado de processos interativos que se dão ao longo do tempo. Esta reconstrução interna é postulada por VYGOTSKY na lei que denominou de dupla estimulação: tudo que está no sujeito existe antes no social (interpsicologicamente) e quando é apreendido e modificado pelo sujeito e devolvido para a sociedade passa a existir no plano intrapsicológico (interno ao sujeito). A criança vai aprendendo e se modificando. Quando, por exemplo, a criança passa a usar um conceito que aprendeu no social, só vai ampliar a sua compreensão quando o internalizar e puder pensar sobre ele. O conceito de mãe pode-nos ajudar a entender, pois evolui da mãe pessoal de cada um para o conceito mais amplo de Mãe. VYGOTSKY salienta que as possibilidades que o ambiente proporciona ao indivíduo são fundamentais para que este se constitua como sujeito lúcido e consciente, capaz, por sua vez, de alterar as circunstâncias em que vive. Nesta medida, o acesso a instrumentos físicos ou simbólicos desenvolvidos em gerações precedentes é fundamental. Ao nascer, as situações vividas vão permitindo, no universo da vida humana, interações sociais com parceiros mais experientes - adultos ou companheiros de mesma idade - que orientam o desenvolvimento do pensamento e o próprio comportamento da criança. Nesse processo de intermediação onde a linguagem, principal instrumento simbólico de representação da realidade, desempenha papel fundamental, postula-se a transformação das funções psicológicas elementares em superiores. A função é um instrumento de pensamento. Existem funções psicológicas elementares, como a memória (orgânica, imediata), e superiores, como 0 raciocínio e a atenção voluntária. O desenvolvimento da função psicológica superior (FPS) está diretamente relacionado com a mediação operada pela linguagem. É o sujeito se apropriando das coisas e transformando-as. A FPS principal é a vontade, pois possibilita a emergência de todas as outras funções.

O Papel da Linguagem nas Interações Sociais 

A passagem das funções psicológicas elementares para as superiores ocorre, portanto, pela mediação proporcionada pela linguagem que, na abordagem  vygotskiana, intervém no processo de desenvolvimento intelectual da criança desde o momento de seu nascimento; por si só, a criança não se apropria qualitativa e quantitativamente dos conhecimentos desejáveis que alcança por meio de interações profícuas com os elementos mais experientes do seu grupo social. A linguagem do meio ambiente, que reflete uma forma de perceber o real num dado tempo e espaço, aponta o modo pelo qual a criança apreende as circunstâncias em que vive, cumprindo uma dupla função: de um lado, permite a comunicação, organiza e medeia a conduta; de outro, expressa o pensamento e ressalta a importância reguladora dos fatores culturais existentes nas relações sociais. Desta forma, o confronto das concepções iniciais de mundo da criança com aquelas apresentadas pelos parceiros de seu ambiente torna-se fundamental para a apropriação de significados diferenciados que, dialogicamente, constituirão sentidos a serem negociados. VYGOTSKY estabelece uma importante distinção entre significado e sentido: aquilo que é convencionalmente estabelecido pelo social é o significado do signo lingüístico; já o sentido é o signo interpretado pelo sujeito histórico, dentro de seu tempo, espaço e contexto de vida pessoal e social. Quando nos referimos a negociação, estamos valorizando as trocas entre os parceiros em sala de aula, pois é nas interações que tanto o conceito científico pode ser mais detalhado pelo professor, pois passa a ser mais discutido em um processo descendente, quanto os conceitos mais cotidianos dos alunos passam a ser enriquecidos e tomam um caminho mais ascendente, pois são ampliados pelo conhecimento científico, elaborado historicamente. Quando a linguagem se dirige aos outros, o pensamento torna-se passível de partilha. Essa acessibilidade do pensamento manifesta-se, pois, na e pela linguagem, expressando, ao mesmo tempo, muitos outros aspectos da personalidade do sujeito. A fala, uma das formas de linguagem através da qual os significados sociais são compreendidos e acordados, encontra-se permeada por expressões afetivas que se tornam igualmente alvo das interações: preferências, antagonismos, concordâncias, simpatias e antipatias. A ação e a fala unem-se na coordenação de várias habilidades, entre elas o pensamento discursivo. Observa-se, então, a objetivação dos sentidos, os quais dão aos signos um caráter mais pessoal e valorativo, permitindo ao sujeito articulações internas que requerem negociações para alcançar significados. Assim, VYGOTSKY faz do significado das palavras a unidade de análise de suas pesquisas sobre atividade instrumental, onde o principal instrumento simbólico é a linguagem. Para ele, a palavra, sendo um microcosmo da consciência, contém em seu significado a possibilidade de analisar as relações entre pensamento e linguagem. A unidade mínima do pensamento e da linguagem é o significado da palavra, ou seja, é no significado que o pensamento e a fala se unem, criando condições para o desenvolvimento do pensamento lingüístico e da fala intelectual.

Interação: Diálogo com Parceiros Mais Experientes 

Adultos e crianças, professores e alunos podem conferir às palavras significado e sentido diferentes. Desta forma, os sujeitos mais experientes, ao interagirem com as crianças, estimulam-nas não só na apropriação da linguagem, como também na sua expansão, possibilitando, assim, a elaboração de sentidos particularizados, que dependem da vivência infantil e da obtenção de significados mais objetivos e abrangentes. As interações sociais na perspectiva sócio-histórica permitem pensar um ser humano em constante construção e transformação que, mediante as interações sociais, conquista e confere novos significados e olhares para a vida em sociedade e os acordos grupais. Assim, a interação de membros mais experientes com menos experientes de uma dada cultura é parte essencial da abordagem vygotskiana, especialmente quando vinculada ao conceito de internalização: é ao longo do processo interativo que as crianças aprendem como abordar e resolver problemas variados. É por meio do processo de internalização que as crianças começam a desempenhar suas atividades sob orientação e guia de outros e, paulatinamente, aprendem a resolvê-las de forma independente. O processo de internalização pode ser entendido como: "(...) a reconstrução interna de uma operação externa, onde uma série de transformações se processam: a) uma operação que inicialmente representa uma atividade externa é reconstruída e começa a ocorrer internamente. b) um processo interpessoal é transformado num processo intrapessoal. c) a transformação de um processo interpessoal num processo intrapessoal é o resultado de uma longa série de eventos ocorridos ao longo do desenvolvimento." VYGOTSKY, ao desenvolver sua teoria, parece não ter pretendido criar um modelo simples e linear de transmissão da experiência cultural do adulto para a criança. O pensamento aparece como diálogo consigo mesmo e o raciocínio como uma argumentação metacognitiva; a atividade mental não é nem pode ser mera cópia do diálogo adulto/criança, posto que esta última participa ativamente da interação: a internalização transforma o próprio processo e muda sua estrutura e funções. Desta forma, a internalização não pode ser entendida como adoção passiva do conhecimento previamente apresentado à criança pelo adulto. Antes, é um processo de reconstrução mental do funcionamento interpsicológico. O processo de internalização, com todas as suas particularidades, caracteriza-se como uma aquisição social onde, partindo do socialmente dado, processamos opções que são feitas de acordo com nossas vivências e possibilidades de troca e interação. 

Para ler mais: http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_28_p111-122_c.pdf

segunda-feira, 13 de abril de 2015

A LINGUAGEM ESCRITA NO PROCESSO DE COMUNICAÇÃO PEDAGÓGICA EM EaD

Marilda Aparecida de Oliveira Effting Universidade Federal de Santa Catarina


INTRODUÇÃO:O percurso da EaD - Educação a Distância -, no cenário brasileiro, vem se intensificando e tomando vulto quantitativo,  principalmente, a partir de 2005, com o programa da UAB – Universidade Aberta do Brasil -, criada pelo Ministério da Educação sob o apoio do Governo Federal, visando, prioritariamente, a formação de professores do ensino fundamental. A UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina -, ao aderir o Programa, em 2006, assumiu o compromisso de manter, na EaD, a qualidade consolidada nos cursos presenciais de graduação. O histórico das práticas pedagógicas presenciais estão sedimentadas na cultura acadêmica da Instituição, por décadas, abrangendo os 3 segmentos, que são: Docentes, Técnicos Administrativos e Discentes. Diante dos desafios de mudanças de paradigmas e posturas pelo quadro de pessoal e das necessárias adaptações físicas/estruturais à modalidade EaD, decidimos fazer um pequeno recorte do processo de trocas informacionais, no âmbito dos diálogos virtuais, considerando o fato de que a maioria das “falas” acontecem através da linguagem escrita. A intenção foi verificar a recepção das orientações, de parte dos conteúdos programáticos, através do ambiente virtual de aprendizagem, em duas disciplinas do curso de Letras Português, oferecido pela parceria UFSC/UAB.


METODOLOGIA:No papel de professor tutor a distância, com atuação direta nas comunicações virtuais entre a Instituição e os pólos regionais, selecionamos, para este estudo, um pólo do interior do estado catarinense, com 34 alunos matriculados, no começo do Curso. Ao eleger um pólo catarinense, pensamos, inicialmente, na proximidade geográfica e cultural o que poderia ampliar os diálogos. Delimitamos a pesquisa em duas disciplinas, uma oferecida no primeiro e a outra no segundo semestre letivo de 2008. Verificamos as “falas” dos alunos acerca das propostas das atividades postadas nos fóruns de debates disponibilizadas, nos espaços virtuais previstos, para os fins específicos. Assim, o material de análise foram as manifestações dos alunos nos fóruns das disciplinas.

RESULTADOS:Dos 34 alunos matriculados no pólo estudado, uma média de 14 participavam dos fóruns livres e os assuntos poucos evoluíam sobre as temáticas postadas.  As “conversas” versavam sobre assuntos diversos, inclusive questões pessoais particulares. Quando os fóruns de discussões envolviam uma atividade com finalidade avaliativa aumentava o número de participantes, em média 25 alunos por assunto dirigido.  Em nossas observações nenhuma atividade envolveu, efetivamente, todos os alunos. Registramos que, dos 34 iniciantes, 6 haviam desistido antes do término do segundo semestre. Alguns alunos alegavam não entender os enunciados e, até mesmo, os comentários subsequentes. Em algumas manifestações ficava evidente a falta de compreensão do assunto, por parte dos acadêmicos. Houve caso de mudança de tema e de redação da atividade como tentativas de atingir um número máximo desejável de participantes, o que não ocorreu.

CONCLUSÃO:Entendemos que a qualidade para o ensino aprendizagem, em EaD, vai além das estruturas físicas oferecidas pelas instituições parceiras e da formação acadêmica dos profissionais da educação. Constamos que por mais sistematizada que seja a atividade em EaD, se não houver uma tentativa de aproximação, interpessoal, no uso das tecnologias, a linguagem escrita, como fonte de diálogo educacional, perde a sua função, com comunicações fragilizadas e, conseqüentemente, desconectadas. O diálogo virtual, que tem base na leitura, fica interrompido. Todas as “falas” enunciativas na EaD precisam dizer o que o aluno precisa receber de informação, sem mais nem menos. Os discursos devem conter palavras chave às propostas da disciplina. O contexto universitário somado à modalidade a distância, pode representar para alguns alunos, de acordo com muitas realidades, uma sobrecarga que, dependendo da (des)motivação, acarreta em forças contrárias ao objetivo de inclusão, base do projeto de formação de professores, pelo programa UAB. Os discursos entre os facilitadores e os alunos necessitam ser potencializadores, de transformação e que traduzam, sem causar resistências, os conteúdos programáticos elencados nas ementas de cada disciplina. A proximidade geográfica e cultural não são garantias para diálogos educacionais em EaD.

Palavras-chave: Leitura/Escrita, Educação a Distância, Formação de Professores.

Fonte:http://www.sbpcnet.org.br/livro/61ra/resumos/resumos/6467.htm