quinta-feira, 29 de maio de 2014

O que é, afinal, o letramento digital?

Por Richard Romancini
Vou iniciar essa colaboração na Plataforma do Letramento tentando definir o tema a respeito do qual pretendo discorrer em alguns artigos: o letramento digital. Ao longo dos textos gostaria de avançar, discutindo aspectos que me parecem mais produtivos na abordagem do assunto, particularmente quando ele se relaciona com questões de aprendizagem e, por isso, com o cotidiano dos professores.

Os letramentos tradicionais, como se sabe, envolvem as práticas de leitura e escrita de textos. Não resta dúvida, então, que tanto o falecido escritor José Saramago quanto o ex-presidente (e também escritor) José Sarney são homens altamente letrados. Porém, em 2009 circulou pela internet um texto com um hilário diálogo fictício entre os dois. Nele, a suposta dificuldade de Saramago em limitar suas ideias aos 140 caracteres do microblog Twitter produzia diversos mal-entendidos de comunicação com Sarney.

A ficcionalidade do texto não prejudicava o humor. A graça estava numa possibilidade em que podíamos crer. Quem não conhece alguém letrado, em termos tradicionais, mas que na manipulação das novas formas de produzir, transmitir e consumir mensagens já não viveu situações constrangedoras? Os exemplos são inúmeros: o professor que entrou num site de vídeos pornográficos sem perceber que o projetor ligado ao seu computador transmitia o conteúdo para a classe, a funcionária que se queixou do trabalho numa rede social que seu chefe também lia, o ator famoso que divulgou por engano seu número de celular para milhares de seguidores numa rede social etc.

É claro, os letramentos digitais atravessam com frequência a noção tradicional de letramento, pois muitas vezes apenas ampliam, prolongam e dão novas formas a práticas consolidadas. Assim, grande parte do humor a respeito do uso de redes sociais decorre de equívocos na linguagem textual utilizada.

No entanto, existe também algo novo. O que é esse “novo”? Ao que ele corresponde? Uma abordagem interessante para refletir sobre essas questões é a de Lankshear e Knobel (2012, 2008), que percebem o letramento digital como parte de um conjunto maior de “novos letramentos”. Para esses autores, os novos letramentos são o resultado de uma série de mudanças envolvendo todos os âmbitos em que a nossa experiência está envolvida, entre outros, a nação, o trabalho, a escola e a família.

Desse modo, conforma-se um novo paradigma social, de grande complexidade. Esta se relaciona, por um lado, ao fato de que traços significativos do passado persistem no presente, embora nomear a época atual como “pós-moderna” indique uma superação do que já se viveu. Por outro, as tendências gerais de desenvolvimento social são abertas, dinâmicas e relativamente incertas.

Para compreender melhor a mudança, os estudiosos tentam estabelecer comparações  entre o momento atual e o estágio precedente. Assim, para falar de aspectos voltados à aprendizagem, nota-se que o paradigma pós-moderno tende a valorizar mais dimensões como a não linearidade, os processos colaborativos e coletivos de construção do conhecimento, assim como a menor estabilidade deste. No paradigma moderno, a linearidade, a individualidade e a estabilidade geralmente eram maiores.

Vivemos num tempo mais instável e fluido. Como notam Lankshear e Knobel (2012), muitas pessoas no passado talvez nunca tenham tido de elaborar um curriculum vitae, por terem trabalhado sempre num único emprego. Porém, hoje é comum que qualquer pessoa tenha elaborado vários currículos, sempre atualizados e talvez com diferentes modos de organização e ênfases. Central para nosso tema é que no contexto atual os indivíduos “com frequência se veem na necessidade de encontrar novas maneiras de comunicar-se e manter suas relações pessoais” (LANKSHEAR; KNOBEL, 2012, p. 314).

Está aí a essência dos novos letramentos e dos letramentos digitais: ser um indivíduo plenamente participante, um cidadão apto a aproveitar e criar oportunidades no mundo atual implica estabelecer novas formas de comunicação. Tais modalidades, por sua vez, demandam novos aprendizados, habilidades e competências.

Pessoas altamente letradas, como Sarney e Saramago, poderão ter de aprender a viver nesse mundo em que as plataformas e os aparatos digitais, como o e-mail, o Twitter, o Facebook e o YouTube, são centrais à comunicação. É importante notar que essas possibilidades comunicativas envolvem, com novo protagonismo, além do texto, o áudio, o vídeo, a imagem estática e suas combinações.

Com efeito, podemos definir, em linhas gerais, o “letramento digital” como a capacidade de ler/escrever com as novas mídias. Isso envolve uma série de questões instigantes. Porém, é importante reforçar que não há contraposição entre o letramento focado na leitura e na escrita e os novos letramentos: a relação é de sobreposição e hibridismos, principalmente de prolongamento. Por exemplo, ao entrar numa conta de e-mail para criar uma mensagem, utilizamos a leitura e a escrita, que, agora, ocupam também o espaço digital.

Até o século 20, a leitura e a escrita de textos eram básicas, fundamentais e, em certo sentido, suficientes para ser cidadão – o livro foi a expressão do projeto moderno. Para ser um cidadão pleno nos dias de hoje, há a necessidade de agregar àquelas competências as habilidades que envolvem os letramentos digitais. Estes encontram na internet seu símbolo, dando forma à “sociedade em rede” de que fala Manuel Castells (2010).
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Referências bibliográficas

CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. 6. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2010. (A era da informação: economia, sociedade e cultura, v. 1).

LANKSHEAR, Colin; KNOBEL, Michele. “Nuevas Alfabetizaciones: tecnologías y valores”. Teknokultura, Madri, v. 9, n. 2, p. 307-336, 2012. Disponível em: http://www.teknokultura.net/index.php/tk/article/view/113/pdf. Acesso em: 5 maio 2014.

LANKSHEAR, Colin; KNOBEL, Michele (Ed.). Digital Literacies: Concepts, Policies and Practices. Nova York: Peter Lang, 2008.
Fonte: http://www.plataformadoletramento.org.br/em-revista/559/o-que-e-afinal-o-letramento-digital.html

terça-feira, 20 de maio de 2014

O papel da família na gestão educacional

Para promotor de justiça, a família é um dos pilares da governança e precisa ter atuação participativa.



"Qual o papel da família na escola? Será que eu só chamo-a quando vou fazer uma limpeza nas salas ou vou pintar uma parede?". Essas são algumas das indagações do promotor de justiça do Ministério Público do Estado de São Paulo Luiz Antonio Miguel Ferreira, feitas durante seminário sobre políticas educacionais ocorrido em outubro. Mestre em Educação e membro do Conselho Consultivo da Fundação ABRINQ, Ferreira chamou atenção para a necessidade de olhar astransformações na sociedade para entender como ela deve atuar na gestão educacional hoje.
Para ele, não é possível pensar na Educação do passado na sociedade atual, pois o paradigma mudou. "No passado, tínhamos uma escola seletiva e excludente. Hoje, nós temos uma escola inclusiva, que deve abranger todas as crianças e os adolescentes", explica. A família também sofreu mudanças: se a antiga era patriarcal, atualmente ela é horizontal, e vemos tanto o pai quanto a mãe trabalhando. Por isso, ele coloca que não é possível comparar a gestão do passado com a de hoje. Nem o papel do gestor da escola, do secretário de educação ou mesmo da família.
Além disso, ele cita como princípios básicos da governança a transparência, a equidade, a prestação de contas e a responsabilidade sócio organizacional. E, para que ela funcione, é preciso que todos os atores da educação se engajem e se comprometam: promotores de justiça, conselho tutelar, gestores públicos, professores, sociedade, família.
"Os responsáveis pela educação somos todos nós. Estado, a família, os professores, em colaboração com a sociedade. E isso é de extrema importância, porque se um falha, sobrecarrega o outro. Se o Estado falha, sobrecarrega a família. Se a família falha, sobrecarrega o Estado. Se os dois falham, nós, da sociedade, vamos ‘pagar o pato’. Então funciona como uma balança. Precisamos trabalhar juntos", explica.

Educar para Crescer conversou com o promotor, que aprofundou a questão de como os pais devem atuar nesse cenário atual da governança educacional:

Qual deve ser a relação da família com esses agentes que atuam na gestão educacional?
Tem que ser uma relação plenamente participativa. Não pode ser aquela relação formal e técnica. Eu matriculo, vou às reuniões e tudo mais. E nem pode ser aquela relação tutelar, da escola querendo tutelar a família. Tem que ser uma relação democrática e participativa, em que você possa ver o que está acontecendo e chamar a escola de "parceira". É dessa forma que a família vai interagir com a instituição de ensino. Se você chamar os pais só para reclamar do filho, eles não vão aparecer. É preciso ver o outro lado, o lado positivo dessa família, o que pode ser feito etc.

Que mudanças devem ocorrer na questão da governança ou da parte do gestor escolar para lidar com o perfil da família atual?
É preciso entender essa nova família, essa nova realidade. Por exemplo, pensar no horário para marcar a reunião. Porque você pode marcá-la no meio tarde e a mãe não vai poder ir, porque ela é mãe e pai, ela trabalha, tem muitas coisas para fazer. O gestor tem que saber que essa nova família tem uma nova constituição, uma nova visão. É preciso fazer com que o gestor entenda essa nova realidade para poder participar, senão fica difícil.

O senhor falou que a família vai para a Justiça porque não consegue vaga na creche, o filho não sabe ler ou escrever etc. Isso mostra que a família não assume o seu papel de responsabilidade na educação, apenas busca por atuações pontuais?
Não, eu acho que tem algumas famílias que estão buscando os direitos delas, que usam a justiça como uma ferramenta, não só para reclamar. Se ela aparece na promotoria porque o filho não está recebendo merenda, ela não o faz só no nome dela, mas pelos outros também. Estou vendo mais comprometimento da parte da família com a escola e isso é legal. E quando os pais batem na porta da promotoria é porque estão acessando seu último recurso - já foram no secretário, na escola e nada resolveu.

Como o pai deve lidar com problemas de drogas e de evasão escolar, por exemplo, que já não chega a ser papel da escola e dos gestores?
O pai tem que entender que esse papel é dele. Ele não pode querer que a escola resolva o problema de drogas do filho, porque ele também é corresponsável por essa questão. Se está vendo que tem droga, ele precisa resolver isso, buscar outros meios - algum Caps (Centro de Atenção Psicossocial) ou Secretaria da Saúde. Eu não posso transferir para a escola aquilo que ela também não pode fazer. Posso trabalhar junto com ela, para que a escola me ajude, me encaminhe para onde for necessário nesse tratamento.

Fonte: http://educarparacrescer.abril.com.br/politica-publica/papel-familia-gestao-educacional-761260.shtml?utm_source=redesabril_educar&utm_medium=twitter&utm_campaign=redesabril_educar

50 museus virtuais para você visitar

Visite museus, eles são repositórios de História e se comunicam com você por meio de acervos, informação e arte. O Brasil, por exemplo, conta com mais de 3.000 museus e você já visitou pelo menos 5% deles?
Digitalizar para disponibilizar itens de acervo pode ser apenas uma das etapas que um plano museológico prevê para disseminar a informação e comunicar a memória, portanto, navegue por eles, mas os visite pessoalmente também. É sempre um bom pretexto para uma viagem qualquer, fomenta o segmento de turismo, informa, diverte, educa.
Fonte: http://canaldoensino.com.br/blog/50-museus-virtuais-para-voce-visitar