quarta-feira, 31 de julho de 2013

‘Saber mais é mudar relações de força’


A escola pretende preparar as pessoas para a vida, mas acaba, muitas vezes, preparando os alunos para as avaliações. A linha que separa os saberes para a vida e dos saberes para os estudos é, para Philippe Perrenoud, o ponto de partida para se discutir o currículo do século 21. “A vida tem que estar no centro da discussão do currículo. O quanto a escola está nos preparando para viver nesse mundo?”, pergunta o sociólogo suíço que é especialista em currículo, práticas pedagógicas e formação de professores.
O pensador não promete soluções simples, principalmente por compreender o sistema de forças e o travamento do currículo atual na maioria dos países. “As disciplinas escolares estão organizadas em mundos e lobbies cuja preocupação é manter ou reforçar suas presenças no currículo. Isso acaba levando a uma lógica em que se entende que a única maneira de mudar o currículo é acrescentando conteúdo”, disse, para uma audiência de educadores aqui no Brasil, durante palestra na Educar Educador.
crédito Nailia Schwarz / Fotolia.com'Saber mais é mudar as relações de poder', diz Perrenoud

Mas Perrenoud aponta alguns dos saberes que, para ele, deveriam fazer parte de uma escola que pretende preparar os alunos para a vida, mas que são praticamente ausentes nos currículos. Eles estão nas searas de direito, urbanismo, economia, ciências políticas e psicologia. “Sabemos transformar decímetro em centímetro, mas o que sabemos sobre autoestima, agressividade, angústia? O que vamos usar mais na vida?”
Sabemos transformar decímetro em centímetro, mas o que sabemos sobre autoestima, agressividade, angústia? O que vamos usar mais na vida?
Para ele, não há como não nos preparam para a vida no século 21 sem entender o mundo em que vivemos. Se a nossa sociedade exige que utilizemos dinheiro, bancos, precisamos entender a lógica por trás do sistema. Se habitamos cidades com trânsito, poluição e problemas de saneamento, é necessário compreender essa dinâmica. Se votamos, vivemos em democracias, precisamos compreender as forças envolvidas no sistema. “Saber e poder estão sempre ligados. Saber mais é mudar relações de força. Os saberes úteis permitem limitar o poder do homem sobre o homem”, diz. “Mas que fique claro: não estou dando soluções, estou apresentando problemas, ideias. É preciso pensarmos juntos esse currículo.”
Veja algumas das provocações do autor sobre a importância desses saberes:
1. Psicologia
A psicologia aparece no currículo, quando aparece, por meio da literatura e do teatro, as dores e os amores de personagens. “Mas quem aprendeu profundamente sobre o inconsciente? Sabemos transformar decímetro em centímetro, mas o que sabemos sobre autoestima, agressividade, angústia? O que vamos usar mais? Como uma coisa tão presente na vida está ausente na escola que pretende preparar para a vida?”, pergunta o suíço.
2. Direito
Quase ausente no currículo, este saber é indispensável porque vivemos em uma socidade regida pelo direito. “Não há necessidade de decorar a legislação ou o Código Civil. Mas precisamos saber consultar esses materiais, sermos capazes de dialogar com juristas, entender nossos deveres e obrigações, já que nossas sociedades estão construídas em torno deles.”
3. Ciências políticas
Perrenoud pergunta se a escola está preparada para ensinar sobre as relações de poder, sobre as influências políticas, econômicas ou étnicas que estão por trás das decisões parlamentares. “O quanto estamos preparados para entender que quando o [presidente dos EUA Barack] Obama está tentando mudar a lei para o porte de armas nos EUA e não consegue, isso está diretamente relacionado ao fato das campanhas dos deputados que votam serem financiadas pela indústria armamentícia?”, questiona.
4. Economia
O mundo vive uma crise econômica intensa no momento, talvez não muito forte no Brasil devido ao momento específico de crescimento econômico, mas que está impactando muitos países do globo. Quem compreende a crise? Quem compreende o problema que começou com a compra de produtos financeiros nos EUA, que eram vendidos a quem não podia pagar? “A economia está no nosso dia a dia. Claro que todos temos que entender um pouco dessa dinâmica no mundo que vivemos hoje, que não é mais baseado em plantar e colher para comer. Nós vamos ao supermercado e os supermercados envolvem relações de trabalho, distribuição, consumo etc. Temos uma grande carga horário de ciências sociais que não aprofundam nessas questões”, critica. “Isso para não falar da não compreensão do sistema de funcionamento bancário. Se entendermos melhor sobre a lógica do banco, quem perde?”
5. Urbanismo e arquitetura
Entre os grandes desafios do mundo hoje estão a poluição, o trânsito, o saneamento básico e a higiene urbana. “Não vivemos mais no campo. Somos uma maioria urbana. E a exploração urbana é muito mais um resultado do acaso, da especulação imobiliária do que algo pensando para atender as necessidades dos habitantes daquela cidade. O quanto a escola nos prepara para essa vida do século 21 e esses problemas?”

Flexibilidade é uma virtude para o trabalho pedagógico

Por Mario Sergio CortelLa, filósofo, educador 

A educação está em constante movimento e não combina com repouso. A observação é do filósofo, mestre e doutor em Educação, Mario Sergio Cortella, que defende que as pessoas não são resistentes à mudança, mas não têm a formação necessária para chegar a esse processo.
Cortella diz acreditar que, para se aproximar do êxito, é preciso estar mais atento às oportunidades e aproveitá-las. Essa busca exige a capacidade de ser audacioso, sem cair na postura do aventureiro. Em entrevista para a Gazeta do Povo, ele disse que, por mais complicado que seja, mudar não é impossível. Confira os principais trechos da conversa:
Mudar é complicado no ambiente educacional?
De maneira geral, as pessoas não têm resistência para mudar. O que elas não têm é uma formação para essa mudança. Tolice é fazer as coisas sempre do mesmo jeito e esperar resultados diferentes. Toda vez que fazemos isso, não chegamos num ponto adequado. Precisamos ter cautela com o “mudancismo”; de ter de mudar o tempo todo. Há diferença entre ser flexível e ser volúvel. Flexível é aquele que muda a cabeça quando precisa. Volúvel é aquele que muda quando o vento bate.
Ser flexível é uma virtude que deve ser valorizada?
Sem dúvida. Uma virtude de inteligência. Um ser que não seja flexível não tem condição de sobrevivência. Darwin nunca disse que a sobrevivência era do mais forte; disse que era do mais apto. Aliás, se fosse dos mais fortes, os dinossauros estavam aí ainda. O mais apto é aquele que tem flexibilidade e, nesta hora, sem dúvida, a flexibilidade é uma virtude para o trabalho pedagógico.
Existe uma tendência pela resistência em mudar?
A primeira Lei de Newton diz que todo corpo tende a um movimento, a menos que alguma coisa o leve para o repouso. Vamos inverter: todo corpo tende ao repouso, a menos que alguma coisa o mantenha em movimento. Brincando com isso, qualquer organismo visa à economia de energia. Para economizar energia, você não precisa sair da área de conforto. Na área da educação, isso é muito arriscado. Por isso, mudar é complicado, mas não é impossível, e acomodar é perecer, mas não é definitivo.
É possível ficar na área de conforto no ambiente escolar?
Toda vez que você envolve a comunidade escolar traz pais, alunos, professores e funcionários para aquele circuito. Fica mais difícil ficar na zona de conforto. Há situações em que a pessoa se desloca da zona do conforto porque deseja fazer algo melhor e outras vezes ela é puxada. A palavra repouso nega a educação, pois educação significa mover-se a algum lugar. Nesta hora educação é movimento.
Para que a mudança ocorra é preciso estar atento às oportunidades?
Não pode estar distraído. A música do Zeca Pagodinha, que diz “deixa a vida me levar, vida leva eu”, não serve para a educação. Em educação tem de ser Geraldo Vandré: “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. É preciso antecipar, planejar e organizar. Ir lá e fazer.
A busca insaciável pela mudança tem a ver com insatisfação?
Existe uma insatisfação positiva e uma negativa, que é a da mera reclamação, resmungo, chateação. A insatisfação positiva quer mais e melhor. As grandes coisas na história da humanidade foram obtidas por homens e mulheres que não tinham uma satisfação por completo em relação ao que faziam. Queriam mais e melhor, mas não queriam só para si.
A educação precisa cuidar com os modismos?
A educação tem muito modismo. Mudar não significa mudar por qualquer razão e nem de qualquer jeito. Significa mudar com planejamento, estudo e avaliação. É preciso trazer aquilo que importa ser guardado e deixar para trás o que tem de ser colocado fora.
A educação como oportunidade ao êxito. A solução está na educação?
A solução está na educação, mas não só nela. Se a educação fosse capaz disso sozinha, o Brasil viveria uma contradição insolúvel. Nós somos a sexta economia mais rica do planeta, mas somos o número 66 em educação. Se fosse automático, como explicaria isso? Se a passarmos a 10.º em educação, seremos o primeiro do mundo [em economia]? Não é assim. Quando comparamos a qualidade da educação, temos de olhar a história do outro país, o investimento que fizeram, o tipo de aporte que conseguiram.
A tecnologia veio para contribuir ou para dificultar?
A tecnologia passou a ser a difusora de uma informação veloz e criou um fenômeno que leva a um choque de tempo. Os alunos são do século 21, nós somos do século 20 e os métodos são do século 19. Quando se junta esses três séculos, há uma colisão que envolve o docente, a família, a autoridade pública e o conjunto da sociedade. Precisamos romper esses atreladores que amarram demais a condição da educação e começar pela valorização do trabalho docente.

Educação e Tecnologia sob uma nova cultura

Edith Ackermann, psicóloga, discípula de Jean Piaget e pesquisadora da relação entre educação e novas tecnologias do MIT, diz que as crianças ganharam um novo suporte mediador da aprendizagem. E que isso não é ruim

Mesmo num mundo onde a informação é abundante e os meios de comunicação convencionais são potencializados por meios digitais, a aprendizagem está necessariamente ligada ao envolvimento com um objeto ou uma situação na qual o aprendiz esteja imerso. Computadores, laptops e tablets podem ser enriquecedores para a aprendizagem, mas sem a mediação de educadores, o processo corre o risco de se perder e de se fragmentar. Afinal, o conteúdo puro não significa muito, pois conteúdo e processo estão imbricados.
Essas são algumas das idéias da psicóloga Edith Ackermann, professora de psicologia do desenvolvimento na Universidade de Aix-Marseille 1, na França. Edith, que durante 20 anos trabalhou no Instituto Piaget – dos quais sete sob o comando do próprio Jean Piaget -, trabalha atualmente como pesquisadora visitante na Escola de Arquitetura do Massachusetts Institute of Technology (MIT). Sua trajetória é marcada por pesquisas e estudos que envolvem a construção de conhecimento, muitos dos quais com crianças, e sobre o impacto da programação de computadores sobre a aprendizagem.
Leia, a seguir, a entrevista que Edith Ackermann concedeu à Educação, durante suavisita ao Brasil no início de maio para participar como palestrante do evento comemorativo dos 30 anos do Núcleo de Informática Aplicada à Educação (Nied), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Qual o impacto das tecnologias no ensino e aprendizagem?Por mais que as novas tecnologias integrem nossas vidas cada vez mais, são necessários diferentes momentos para que ocorra a construção do conhecimento e para que a criança continue a aprender. Um deles tem a ver com estabelecer uma relação, uma conexão, com algo que faça sentido.
Há outro momento relacionado com o envolvimento; tem a ver com uma imersão, construção. Um terceiro momento, muito importante, é o que eu chamo de contemplação, ao invés de reflexão. Utilizo essa terminologia porque não gosto da maneira como os educadores tendem a criar rituais em torno da aprendizagem: “Vamos tentar…” ou “Vamos refletir sobre…”.  Prefiro pensar em termos de um momento em que a pessoa está com a mente totalmente engajada, e em outro momento em que ela se coloca fora da situação e a contempla.
Um quarto momento é o que chamo de reinterpretação. É como o teatro e está relacionado com dar uma resposta. É uma reinterpretação de tudo o que intriga, que mobiliza uma pessoa. Há um quinto momento que tem a ver com colaborar com outras pessoas, que é tão intenso quanto os demais. Cada um desses momentos requer algum tipo de mediação, porque não existem experiências diretas, não mediadas. Mesmo aquelas experiências que parecem ser de primeira mão, são, de alguma forma, mediadas por aquilo que já sabemos, já vivemos.  Então, a tecnologia não é, necessariamente, imprescindível para o aprendizado.
Suas pesquisas enfatizam a programação de computadores por crianças. Como isso é possível?
A programação é a arte e a ciên­cia de criar condições para que as coisas interajam entre si e com o mundo, por conta própria. Ela possibilita que as crianças desenvolvam maneiras próprias de dar comandos e assumir o controle de determinadas situações, na medida em que elas desenvolvem, por exemplo, meios para que as coisas façam coisas (instruindo-as a seguir ordens). Quando programam, as crianças também podem animar objetos ou fazer com que eles interajam com um ambiente, seguindo determinados parâmetros.Nesse processo, elas podem seguir rumos inesperados e imprevistos pelos adultos. Mas as tecnologias são um suporte, possibilitam a mediação para processos bastante enriquecedores. A mediação também pode ser um suporte físico, um lugar, podem ser pessoas.
É nesse ponto que entra a última etapa da aprendizagem, um momento que transforma o processo em um ciclo, num continuum. E esta é parte complicada, porque a coisa mais difícil, tanto numa sala de aula, quanto em ambientes informais de aprendizagem, é superar o primeiro obstáculo, a primeira decepção – aquela que surge depois da inspiração, da confiança de que consigo fazer as coisas. Quando o primeiro obstáculo real surge, é o que de fato ajuda as pessoas a irem além. Esta é a coisa mais difícil em educação.
E é neste ponto que a orientação é necessária, pois como reagir depois da primeira decepção? Nesse momento, a orientação é muito importante para que as pessoas não se percam, para que elas mantenham o foco, o horizonte da tarefa que estão realizando.
Não basta entregar um laptop ou um tablet para cada criança?Não, não funciona assim. Durante muitos anos trabalhei no projeto Um Computador por Aluno [concebido por Nicholas Negroponte, também do MIT] e ainda acho interessante a ideia de distribuir laptops, desde que não se presuma que as crianças vão aprender sozinhas, sem um professor. Esta é uma ideia equivocada. Mas o professor tem de partir daquilo que a criança sabe, caso contrário não há aprendizagem.
Quando trabalhava com Piaget, aprendi que informação não é conhecimento, que inteligência não processa informação e que a mente humana não funciona como um computador, codificando informação e a arquivando na memória, como se fosse uma biblioteca que podemos acessar quando necessitamos. A mente humana funciona de um modo muito mais orgânico, pois existe um paralelismo entre os processos psíquicos e físicos. Piaget diz que o conhecimento é experiência, mas é a experiência na qual uma pessoa está imersa, após ter vivenciado várias instâncias dessa experiência, como variações sobre o mesmo tema.
Como fica a escola nesse cenário?
Nenhuma instituição ou organização pode se responsabilizar, de maneira isolada, pela educação de uma criança no mundo atual. É difícil dizer o que as escolas devem ser, mas certamente não se trata de infraestrutura luxuosa ou apenas de tecnologia avançada. Uma escola pode funcionar até sem eletricidade. O que importa é a existência de um lugar de encontro. A aula pode acontecer até debaixo de uma árvore.
Existe hoje uma valorização muito grande do conteúdo. Como relacionar isso com a construção da aprendizagem?Eu faço parte de um grupo de estudiosos que não gosta de separar o conteúdo do processo. Ao mesmo tempo vivemos num contexto em que as maiores universidades do mundo estão distribuindo o conhecimento que produzem na forma de conteúdo. Mas o acesso ao conteúdo, mesmo às aulas dos maiores professores, não assegura nada. Esse conteúdo só tem alguma utilidade para aqueles que têm algum grau de organização própria, que souberem como utilizá-lo.
O que está em questão é aquilo que Seymour Papert [matemático do MIT, criador da linguagem Logo nos anos 1970 e um dos maiores teóricos sobre o uso do computador na educação] diz: pensar é estar pensando sobre alguma coisa relevante. Essa coisa relevante é, de fato, o fenômeno que o indivíduo está questionando ou sobre o qual está aprendendo.
Então o interesse de um menino em videogames não é necessariamente ruim?Não, de fato, não é. Os jogos têm a particularidade de criar um ambiente seguro no qual a criança sabe que pode errar. Acredito que as crianças gostam de videogames porque sabem que são uma encenação. Enquanto jogam, elas sabem que podem voltar, repetir o processo até obterem sucesso.
Nesse sentido, está havendo um debate sobre as habilidades que as pessoas devem ter no século 21.
Sim, com a perspectiva dos adultos de definirem o que as crianças devem saber para serem bem-sucedidas no mundo contemporâneo. Nos Estados Unidos, existe todo um enquadramento no sentido de combinar conteúdos com determinadas habilidades, expertises e alfabetizações para  produzir determinados resultados.
Enquanto isso, estão sendo forjadas novas culturas de participação por meio de tecnologias, que dão origem a novos tipos de expertises técnicas, em áreas como o vídeo digital, animação, design de moda. Vivemos numa nova ecologia midiática, um ambiente híbrido no qual vivemos e aprendemos, em que transitamos de livros para o Facebook. São várias formas de engajamento, as formas como as crianças (e as pessoas responsáveis por sua educação) navegam, habitam, renovam esses ambientes. As pessoas não vivem em um único canal: virtual ou físico. A tecnologia não está competindo com as outras dimensões; elas coexistem.
Há riscos nesse processo?
Podemos aprender muito quando observamos como as crianças se relacionam com as tecnologias. Há estudos que mostram que as novas gerações estão desenvolvendo uma relação diferente com o mundo e com a aprendizagem. Um exemplo é a cultura de compartilhamento. Muitas vezes, os “nativos digitais” disseminam suas ideias e criações antes de elas estarem totalmente formatadas, difundindo uma cultura de colaboração, de trabalho em equipe.
Mas há dimensões às quais é preciso ficar atento. A escrita passou a ser entendida como uma justaposição de fragmentos recortados e colados ou como uma combinação de texto, imagem e som. A leitura se tornou a marcação de um texto ou extrair um trecho para ler mais tarde. A edição passou a ser vista como um meio de criação. Isso impõe um desafio enorme aos educadores, que têm de lidar com uma situação que eles consideram plágio.

terça-feira, 30 de julho de 2013

Rumo aos novos letramentos: entrevista com Roxane Rojo


Referência nos estudos de linguagem e na análise do livro didático, pesquisadora da Unicamp crê que está na hora de ampliar a oferta de materiais para uso em sala de aula


Que impacto traz essa nova visão, que incorpora os escritos (as novas linguagens) à escrita alfabética, ao trabalho do professor?
Na alfabetização, isso só traria benefícios e facilidades. Se pensarmos, por exemplo, na educação infantil, o professor trabalha com essas diferentes linguagens - o corpo da criança, a dramatização, o teatro, a hora da rodinha, o que se vai contar, falar e, no meio disso, começa a alfabetizar. Nas escolas privadas que alfabetizam aos 6 anos, ou o 1º ano das públicas do fundamental de nove anos, essa alfabetização se dá num âmbito em que as maneiras de simbolizar ou representar são muito variadas. A criança vai usar o corpo, cantigas, a observação do feijãozinho e a escrita vem dentro desse sistema de atividades como uma modalidade, entre várias. A pesquisa "Retratos da Leitura no Brasil" mostra que as crianças gostam de ler e se engajam nos escritos até o 5º ano. Entre outras coisas porque isso faz parte de uma prática mais global. Quando entra na alfabetização, muitas vezes professores e livros formados de maneira mais tradicional cortam esse processo e focam o código alfabético. E aí há rupturas de processo, que poderiam não acontecer se mantivessem, por exemplo, vídeos, áudios e canções. As crianças trazem um domínio da imagem, via televisão e outras linguagens, muito maior do que o da escrita. A escrita poderia entrar no berço dessa multilinguagem se as práticas fossem modificadas. Nas etapas seguintes, quanto mais à frente você for - por exemplo, no ensino médio - mais há uma valorização do escrito, do impresso e das formas canônicas. No ensino médio, temos literatura canônica escrita e acabou. As práticas letradas vão se afunilando naquilo que a escola julga que deve ser transmitido. E o que apontamos é justamente uma ampliação desses patrimônios. Como eles estão postos hoje, à la século 19, não servem mais à cidadania, nem à vida pessoal e nem ao trabalho. É preciso ampliá-los à imagem, ao áudio. Sem abandonar a escrita, obviamente. 

E como ficaria a formação docente?
Outro dia ouvi alguém falar algo genial em um evento. Ele dizia que a escola tem um currículo do século 19, professores do século 20 e necessidades dos alunos do século 21. A formação é complicada, mas é também uma questão geracional. Os meus alunos que estão se formando são quase nativos de uma era digital. Não terão o problema de não querer aprender uma linguagem por não serem usuários. Na hora em que a leva de migrantes - as pessoas que começaram no impresso e terminaram no digital - sair da escola, teremos algo diferente. É uma questão de 20 anos para termos algo diferente. Mas não podemos esperar, temos de investir em formações e materiais e numa pedagogia de projetos. 

Mas há também a expectativa das famílias, que é maior quanto à escrita (e não aos escritos). Como lidar com isso?
Depende de qual família, do letramento familiar. Do ponto de vista das famílias analfabetas ou de baixa escolaridade, a criança  decifrar o código e fazer cálculos é um enorme avanço, pois é aquilo que ela não tem. Nem sei se ela é capaz de reconhecer essas outras mídias e maneiras de significar como relevantes. Afinal, essa família também tem a televisão em casa. Se os filhos começarem a ver TV na escola, poderão perguntar que escola é essa que não está ensinando a ler, escrever, literatura e ortografia. Por outro lado, uma família inserida nesses letramentos contemporâneos percebe que seu filho só arruma emprego se dominar ferramentas de edição de áudio e vídeo. Pode pensar 'ah, que interessante essa escola, não preciso pagar cursos por fora'. Então, para o grosso da população, esse reconhecimento é mais difícil, a não ser como um impacto de minoramento da rejeição do aluno em relação à escola e da violência que impera na escola. No ensino médio, essa distância das práticas entre o que a escola quer - o trovadorismo, por exemplo - e o que o aluno quer - o rap - se traduz muitas vezes em violência interna e externa à escola, em afastamento do alunado da escola. 

O que o docente deve incorporar, dos pontos de vista teórico e didático, para trabalhar a partir dessa nova visão? 
A proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais, de 1998, do trabalho com gêneros textuais, pavimentou a estrada nos últimos 10, 12 anos. O conceito de gênero - e não o de texto ou de tipo de texto, que é aquele mais escolar - abre as possibilidades de abordagem numa diversidade dos escritos impressos e das outras linguagens. Começou a ser aceito que o professor pode trabalhar com gêneros nos quais nunca antes tinha pensado. Estava corrigindo um material que vai entrar de forma suplementar na rede municipal de São Paulo em que se propõe um volume sobre poemas visuais, inclusive os digitais, e rap. É uma novidade já incorporada por um sistema público municipal na produção de material didático de apoio ao professor. Esse conceito abriu o caminho: começo trabalhando com notícia, artigo de opinião, e depois amplio para charge, tirinha, fanzine e outras coisas. 

E como isso mexe com a formação inicial? 
Os currículos das universidades continuam no século 19, início do 20. Os currículos de letras, por exemplo, têm muito pouca análise do discurso, estudo de texto e teoria de enunciação. E, hoje em dia, todas as propostas vão nessas direções - da linguística textual, da teoria da enunciação e das análises de discurso. Então, o campo teórico precisaria incorporar mais da visão da linguagem não como palavra, sílaba, fonologia, frase, sentença, gramática, mas como discurso, texto e enunciado. Se o aluno não tem formação nisso, vai ter de aprender na formação continuada. Em geral há apenas uma ou duas disciplinas e o grosso é gramática, sintaxe, fonologia, um currículo mais clássico de letras. Na pedagogia, isso tem um impacto menor, porque quando tem alguma formação vai para essas disciplinas que estão presentes nos currículos, e não para as coisas mais clássicas da linguística. Outra coisa é que a universidade continua extremamente disciplinar e subdisciplinar. A Capes divide em áreas, subáreas e assim por diante. Isso dificulta uma abordagem como essa, pois se vamos tratar da imagem ou da canção será preciso alguma noção de semiótica de maneira mais geral, de música... Que a discussão da interdisciplinaridade chegasse à universidade seria interessante, o que está apenas começando. 

E do ponto de vista da didática?
É mais complicado ainda. O governo fez várias tentativas de integrar melhor a formação docente das licenciaturas entre a educação e as especialidades. Só que cada universidade fez à sua maneira. De fato, na maioria das universidades de letras, didática e conteúdo continuam muito separados. Quando se juntam é só no final e sem conversa entre as unidades de educação e de letras. Na pedagogia, há dois problemas: o primeiro é a recente exigência de que o professor tenha a formação universitária para ser alfabetizador. Mas está sendo cumprida. Fazer essa qualificação a toque de caixa provocou uma série de cursos duvidosos, configurados como uma suplementação, só para que se atribuísse aos professores o grau universitário. Em segundo lugar, muitas vezes a montagem dos cursos na educação dá muito pouco espaço aos conteúdos. Não sei o que é melhor, pois quando trabalho com formação continuada de professores a didatização é muito presente para aqueles que têm formação mais generalista e isso talvez seja prioritário. Eles têm mais sintonia com o que é ensinar, com a forma como o aluno aprende e do que ele precisa. Já o professor especialista é mais resistente, a relação dele é com aquele conteúdo, com esgotá-lo ou transmiti-lo, o que talvez torne mais difícil ensinar. O que falta ao professor alfabetizador são noções de fonologia, de relação oral-escrito, mas acho mais fácil ensinar isso a ele do que mostrar ao especialista a importância de estar sintonizado com o processo do aluno.

Como isso se traduz em termos de habilidades específicas que o professor precisa trabalhar?
Em primeiro lugar, deve saber diagnosticar o que o aluno precisa tanto em termos de aquisição da base alfabética e da própria alfabetização quanto em termos do gênero com que vai trabalhar. Mas para diagnosticar o aluno é preciso conhecer bem o objeto, ver o que ele sabe daquele objeto, para poder ensinar. Então, em primeiro lugar, ter essa percepção de um acompanhamento diagnóstico e formativo, e não de um acompanhamento só avaliativo terminal. E o que seria mais novo na formação, que é ter essa sintonia maior com o multiculturalismo, com o que o aluno traz não só em termos de conhecimentos, mas da cultura da sua comunidade, de como se aproximar dele com menos conflito cultural. Didaticamente, o mais importante é deixar o aluno ser ativo, construir o conhecimento em vez de transmitir.


Leia na íntegra a entrevista concedida à Revista Educação em http://revistaeducacao.uol.com.br/textos.asp?codigo=12986 


Fonte: http://linguagemdocencia.blogspot.com.br/2011/01/rumo-aos-novos-letramentos-entrevista.html

Entrevista: Magda Soares



PALAVRAS OU EXPRESSÕES LATINAS UTILIZADAS EM TRABALHOS ACADÊMICOS

Por Éderson Luís Silveira.

apud: Significa “citado por”. Nas citações é utilizada para informar que o que foi transcrito de uma obra de um determinado autor na verdade pertence a um outro. Ex.: (Napoleão apud Loi) ou seja, Napoleão “citado por” Loi



et al. (et alli): Significa “e outros”. Utilizado quando a obra foi executada por muitos autores. Ex.: Numa obra escrita por Helena Schirm, Maria Cecília Rubinger de Ottoni e Rosana Velloso Montanari escreve-se: SCHIRM, Helena et al.

ibid ou ibdem: Significa “na mesma obra”.

idem ou id: Significa “igual a anterior”.

In: Significa “em”.

ipsis litteris: Significa “pelas mesmas letras”, “literalmente”. Utiliza-se para expressar que o texto foi transcrito com fidelidade, mesmo que possa parecer estranho ou esteja reconhecidamente escrita com erros de linguagem.

ipsis verbis: Significa “pelas mesmas palavras”, “textualmente”. Utiliza-se da mesma forma que ipsis litteris ou sic.

opus citatum ou op.cit.: Significa “obra citada”

passim: Significa “aqui e ali”. É utilizada quando a citação se repete em mais de um trecho da obra.

sic: Significa “assim”. Utiliza-se da mesma forma que ipsis litteris ou ipsis verbis.

supra: Significa “acima”, referindo-se a nota imediatamente anterior.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

10 coisas que não se deve fazer em uma tese ou dissertação

             
Escrever um trabalho acadêmico de conclusão de curso é ao mesmo tempo uma tarefa incrível e árdua. Antes dos confetes e da bandeirada na linha de chegada haverá momentos de euforia, reflexão, desânimo e desespero, não necessariamente nesta ordem. Por isso, fizemos uma lista com algumas dicas para quem está percorrendo este caminho:

1. NÃO PROCRASTINE
Parece mágica: é só sentar em frente ao computador para escrever nosso trabalho que qualquer coisa na internet ou na televisão se torna mais atraente e interessante. De vídeos de humor no YouTube a chamadas sobre a Nana Gouveia no site da Globo. E é aí que mora o perigo: o tempo passa, o prazo final se aproxima, e aquilo que poderia ter sido escrito com calma e muito cuidado, acaba por ser escrito às pressas. A dica aqui é uma só: disciplina. Organize seu tempo, estabeleça metas diárias, semanais e mensais, e se policie. Está com bloqueio criativo? Fica encarando o cursor piscando na tela em branco? Pare de pensar que seu trabalho necessita ser escrito de forma linear, ou seja, do começo ao fim. Comece escrevendo qualquer parágrafo, trecho ou parte que lhe vier à cabeça naquele momento. Você irá perceber que após começar, uma ideia vai puxando outra, e o texto irá fluir naturalmente.

2. NÃO SEJA PERDIDO
Uma frase repetida à exaustão em palestras motivacionais para empresários é “para quem não sabe aonde quer chegar, qualquer lugar servirá“. Pois esta ideia se aplica à elaboração do seu trabalho acadêmico também. Depois de todo o trabalho de coleta e análise dos dados, e com suas hipóteses e seus objetivos em mente, escreva suas conclusões. As conclusões não devem ser a última parte a ser escrita. Devem ser a primeira. Assim, é possível planejar todo o texto para que o mesmo conduza e prepare o leitor para as conclusões. A definição das conclusões do trabalho também poderá auxiliá-lo na redação de todo o texto, principalmente, na discussão dos resultados.

3. NÃO ECONOMIZE NA LEITURA DE ARTIGOS
Em primeiro lugar, ler mais irá lhe auxiliar a escrever melhor. Você deve ouvir isso desde o ensino fundamental. Acredite, é verdade. Além disso, ler vários artigos relacionados ao seu tema irá lhe proporcionar maior segurança na discussão de seus resultados e outras formas de observar seu problema de pesquisa. Dominar o assunto sobre você está escrevendo e fundamental, por isso, não tenha preguiça de ler muitos artigos.

4. NÃO SUBESTIME A ABNT
Não existe nada mais chato que formatar um texto segundo as normas da ABNT. Evite deixar para fazer isso apenas após o término do trabalho, quando provavelmente estará cansado e sem muita paciência. Aprenda as normas previamente e já escreva seu texto segundo as mesmas, principalmente se você não utiliza um gerenciador de citações bibliográficas, como o EndNote, o Mendely ou o Zotero. Descobrir os autores das citações que você não colocou a referência enquanto escrevia pode levar um bom tempo, o que torna a tarefa antiprodutiva.

5. NÃO ESPECULE
Evite generalidades, mas abuse dos dados. Generalidades são boas para conversa de mesa de bar. Cada afirmação do seu texto deve ser capaz de ser respaldada por dados, informações e interpretações encontradas em artigos e textos de outros autores ou na sua própria pesquisa. Não importa o que – ou quem – você usa para embasar suas afirmações, nem que você referencie explicitamente cada afirmação, mas todas as afirmações precisam ser suportadas de alguma forma.

6. NÃO COLOQUE EM SEU TEXTO ALGO QUE NÃO SAIBA EXPLICAR
Se você que estudou aquele tema durante meses, “viveu” seu trabalho, e escreveu o texto, não compreende completamente o que algo significa, imagine quem está lendo seu trabalho. Existe, portanto, uma enorme possibilidade da banca perguntar sobre isso. Se for algo imprescindível ao trabalho, trate de estudar e dominar aquele assunto. Caso contrário, não se complique à toa.
7. NÃO FAÇA UMA “COLCHA DE RETALHOS”
Escrever um trabalho acadêmico é mais do que apenas fornecer informações ou opiniões de outros autores. Faça uma discussão sobre estas informações, relacione-as com os seus resultados, com os resultados de outros autores. Demonstre que você domina o assunto e que consegue tornar o texto mais agradável, desenvolvendo um estilo próprio.

8. NÃO FIQUE COM APENAS DUAS OPINIÕES
Terminou de escrever seu trabalho? Depois de duas ou três leituras você e seu orientador provavelmente não conseguirão encontrar mais nenhum erro. Parece que nós nos “acostumamos” com eles. Por isso, peça para seus colegas de curso, seu vizinho, seu namorado, sua tia lerem seu trabalho também. Cada pessoa que ler seu trabalho terá uma visão diferente sobre o mesmo, baseada em sua história de vida e em seus conhecimentos. Tenho certeza que você irá se surpreender com o resultado desta dica.

9. NÃO CONFIE EM SEU COMPUTADOR
Tenha cópias do seu trabalho impressas, em seu email, em HD externo e nas “nuvens” (Google Drive, Dropbox, etc). A lei de Murphy é implacável com a pós-graduação, portanto é melhor não arriscar. Também não confie em sua impressora na véspera da entrega do trabalho. Se possível, termine e imprima seu trabalho com um dia de antecedência para evitar surpresas desagradáveis.

10. NÃO BRIGUE COM SEU ORIENTADOR
Seu orientador não responde seus e-mails, não atende suas chamadas, não lê seu texto e te bloqueou no Facebook. É complicado, eu sei. Mas conte até dez e evite discutir desnecessariamente com seu orientador, afinal, você depende dele. Na hora da defesa, ele pode comprar sua briga ou te jogar para os leões. Pense nisso.
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Texto adaptado do original “10 coisas para não fazer na monografia”, de autoria de Ricardo Oliveira e disponível no DIVERSITÁ BLOG.

Dicas importantes para quem está escrevendo a tese ou a dissertação



Sugestões valiosas para quem está iniciando esta importante e decisiva etapa de um curso de Pós-graduação.

Você não precisa seguir uma ordem
O principal mito em escrever uma dissertação é que você começa escrevendo o Capítulo Um e acaba a redação no Capítulo Cinco. Raramente isto acontece. A forma mais produtiva de escrever uma dissertação é começar escrevendo aquelas partes com as quais você se sente mais confortável. Logo você começa a mover-se em outras direções completando vários tópicos ou capítulos a medida em que você pensa neles. Em algum momento você estará escrevendo em várias sessões. Você pode expô-las a sua frente e sequenciá-las da melhor maneira para ver o que está faltando ou o que deveria ser acrescentado a sua dissertação. Desta maneira você baseia sua construção naqueles aspectos de seu estudo que lhe parecem mais interessantes. Ou seja, pensa naquilo que interessa a você, comece escrevendo sobre isso e então prossiga construindo a partir daí.

Aproveite seu projeto de pesquisa
Se você preparou um projeto de pesquisa detalhado, agora será recompensado! Pegue o projeto e comece por conferir a sua metodologia de pesquisa. Troque o tempo do verbo, do futuro para o passado, e então faça as inclusões ou mudanças de maneira que a metodologia reflita verdadeiramente aquilo que você fez. Agora você pode trocar as sessões ou capítulos da proposta para sessões ou capítulos da dissertação. Siga adiante para a Descrição do Problema e Revisão da Literatura e aja da mesma maneira.

Procure bons exemplos
Releia duas ou três teses ou dissertações bem elaboradas e apresentadas. Examine o uso dos títulos, o estilo como um todo, a tipografia e a organização. Utilize-os como um modelo para a preparação de sua própria tese ou dissertação. Desta maneira você terá uma ideia, no início do seu trabalho, de como ficará o seu trabalho quando acabado. Uma perspectiva que lhe ajudará muito!

Escreva de forma clara e que não deixe dúvidas
O estilo do texto da dissertação não é formatado para o entretenimento. O texto da dissertação deve ser claro e sem ambiguidade. Para fazer isto adequadamente você deve preparar uma lista de palavras chaves que são importantes para sua pesquisa e então o seu texto deve usar esse conjunto de palavras chaves em todas partes. Não existe nada mais frustrante para quem lê do que um manuscrito que fica usando palavras alternativas para dizer a mesma coisa.

Cuidado com as conclusões/considerações finais
Se você está incluindo uma sessão de Conclusões/Considerações finais em sua dissertação, certifique-se de estar realmente apresentando conclusões e considerações finais. Frequentemente o autor usa essa sessão para meramente reafirmar os resultados da pesquisa. – Não me faça perder tempo. Eu já li os Resultados e agora na sessão de Conclusões/Considerações finais eu quero que você me ajude a entender o que significa tudo isso – esta é uma parte chave da tese ou dissertação e às vezes é melhor fazê-la depois de ter se afastado alguns dias de sua pesquisa, o que lhe permite colocá-la em perspectiva. Se você fizer isso, sem dúvida será capaz de visualizar uma variedade de novas ideias que ajudarão a conectar sua pesquisa a outras áreas. Eu geralmente penso em Conclusões/Considerações finais como a expressão “E daí. Em outras palavras, quais são as ideias chaves que eu posso trazer do seu estudo para aplicar na minha área de conhecimento?”.

Fonte: LearnerAssociates

Dez dicas para escrever artigos científicos

              

Um bom artigo deve conter uma (boa) idéia, mas não muitas boas idéias. É importante, portanto, que você tenha claro qual é sua melhor idéia. Caso você não tenha apenas uma (boa) idéia, mas sim várias, e queira escrever um artigo, é recomendável optar por uma das alternativas a seguir:
(i) hierarquizá-las, para deixar claro qual delas será tratada;
(ii) planejar a escrita de vários artigos, cada um sobre uma das suas idéias (nesse caso, é recomendável que você não os escreva simultaneamente, pois isso significa escolher alguma como prioritária, ou seja, significa voltar ao item precedente);
(iii) fundir as várias idéias em uma só, que seja consistente, sem ser excessivamente genérica.
Com clareza quanto à sua boa idéia e com os resultados finais ou parciais de sua pesquisa à mão, eis dez pontos importantes para compor um bom artigo.

1. Faça um roteiro antes
Antes de escrever, elabore um roteiro: tenha uma ideia clara do que você quer demonstrar, confirmar/desmentir, ilustrar, exemplificar, testar, comparar, recomendar etc. O começo, o meio e o fim do artigo devem estar claros para você antes de ele começar a ser escrito. Lembre-se: qualquer autor passa muito mais tempo revendo/reescrevendo (quase sempre mais de uma vez) os diferentes trechos de um texto, do que os escrevendo. Por isso, o roteiro ajuda a compor a primeira versão que, em seguida, será objeto de várias revisões. Não é por acaso que vigora a máxima de que o ofício de pesquisador requer 10% de inspiração e 90% de transpiração.

2. Use a fórmula SVP
Valorize a fórmula consagrada de escrita chamada SVP – “sujeito, verbo e predicado”. Escreva “O conselho discutiu a regra”. Não escreva “A regra foi discutida pelo conselho” ou “Foi discutida pelo conselho a regra”. Usar esta fórmula simples de escrita ajuda a tornar o texto claro e preciso, encurta as suas sentenças e diminui a possibilidade de cometer erros de concordância, entre outros.

3. Não especule
Evite generalidades, mas abuse dos dados. Generalidades são boas para conversa de mesa de bar. Cada afirmação do seu artigo deve ser capaz de ser respaldada por dados, achados e interpretações encontrados em artigos e textos de outros autores ou na sua própria pesquisa. Não importa tanto o que – ou quem – você usa para respaldar as suas afirmações, nem que você respalde explicitamente cada afirmação, mas elas têm que ter respaldo.

4. Cuidado com os “achismos”“Eu acho”, “eu prefiro”, “o melhor é”, “deve ser”, “tem que ser”, “todo mundo sabe que”, “sempre foi assim”, “a tendência natural é” – nada disso dá respaldo a argumentos usados em textos científicos. Essas expressões indicam manifestações de normatividade, de opção pessoal ou de preferência. Evitar.

5. Trabalhe suas premissas
Seja lógico: após o A, vem o B, e não o C ou o D. Releia as suas afirmações e conclusões: veja se elas têm mesmo respaldo empírico e se decorrem logicamente da sua argumentação. É muito comum o uso de expressões como “dessa maneira”, “portanto”, “segue-se que”, “assim”, “conclui-se que” etc., sem que de fato haja relação lógica entre as conclusões e as frases que a precedem. Exemplo: A: “O céu amanheceu sem nuvens.” B: “Sem nuvens não há chuva.” C: “Portanto, não choverá nas próximas semanas.” A está certo; B está certo; C pode até estar certo, mas não decorre de A nem de B. C é uma afirmação ou conclusão que não decorre rigorosamente das afirmações anteriores. Rigorosamente, C é uma suposição, mais do que uma conclusão.

6. Evite sentenças longas
Mantenha as suas sentenças curtas. Para isso, a solução é simples: abuse dos pontos finais, pois eles são gratuitos, não estão ameaçados de extinção e organizam o seu texto. Sentenças longas exigem o uso excessivo de recursos como vírgulas, dois pontos, pontos e virgulas, travessões, parênteses etc. Eles são também gratuitos e abundantes, mas quando usados a granel não facilitam a leitura do seu texto. Sentenças longas devem ficar para os que têm um bom domínio da língua, como os detentores do prêmio Nobel (José Saramago) ou mestres da literatura (Machado de Assis). Mas, cuidado com Guimarães Rosa: o uso recorrente de neologismos funciona muito melhor na literatura do que em textos científicos.

7. Leia muito
Reserve tempo para sempre ler literatura (romances, contos, novelas, narrativas, poesias etc.), mesmo quando estiver redigindo a sua tese ou dissertação. Ler bons textos é fundamental para aprender a escrever. Procure textos que se relacionem com as suas deficiências de escrita. Por exemplo, os prolixos devem ler João Cabral de Melo Neto, e os muito secos podem escolher Vinicius de Moraes.

8. Não seja preguiçoso
Não use apud quando puder se referir diretamente a um autor/texto, pois este é um recurso excepcional. Leia e cite sempre o autor e o texto originais, a não ser que seja um texto antiquíssimo que existe apenas na Biblioteca Nacional de Paris ou que esteja escrito apenas em chinês arcaico ou em aramaico.

9. Utilize citações com boa credibilidade
Busque sempre usar como fontes os autores mais reconhecidos, as maiores autoridades no assunto. Não é porque você teve um bom professor que escreveu um artigo ou deu uma boa aula a respeito de um assunto que ele é a referência mundial nesse assunto. Da mesma forma, não se limite a ler e a citar os autores e textos usados pelos seus professores prediletos. Aprenda a usar ferramentas que lhe permitam identificar os autores mais importantes em cada área de saber, inclusive aqueles com quem você não necessariamente concorda. No entanto, os autores não devem ser usados ou citados apenas porque são reconhecidos, mas sim porque são bons e pertinentes à construção de seu texto.

10. Não deixe de publicar
Regra de ouro para publicar artigos: “quem não pesquisa, não escreve; quem não escreve, não submete; quem não submete, não é aceito; quem não é aceito, nunca será publicado; quem não é publicado permanece anônimo, e de nada vale um cientista ou intelectual anônimo.”

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Texto escrito por Marcel Bursztyn, José Augusto Drummond e Elimar Pinheiro Do Nascimento

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Riso metafórico com Bugio, o motoqueiro

                              http://mundotexto.files.wordpress.com/2013/07/937ee-bugio252comotoqueiro.jpg?w=640&h=300

Para a gramática tradicional, a metáfora é colocada como um tipo de figura de linguagem, “muito encontrada em obras de autores clássicos e consagrados pela crítica”. Porém isto não nos interessa aqui, porque prefiro afirmar que a metáfora está em quase tudo que qualquer sujeito diz por aí, esse papo de linguagem dos clássicos e usos consagrados já era! Por conseguinte, prefiro tratar a metáfora como um processo de significação cuja compreensão das expressões linguísticas envolve algum tipo de relação inferencial.

Vamos ver então de onde vem o efeito do riso metafórico que a tirinha do nosso motoqueiro Bugio produz. Para tanto, com base no que diz Ferreira (2009), apresento 4 propriedades básicas encontradas em uma metáfora. Pode ser que existam outras propriedades ou mesmo que o recorte feito seja discutível, mas por ora ficamos com estas:

1) duplicação dos empregos – a metáfora funciona como expressão substituta possível (cair na estrada =  partir para outro lugar ou em viagem conduzindo um veículo por caminho terrestre) de um termo com sentido próprio ou literal (cair na estrada = sofrer uma queda ou tombar em via terrestre, ir ao chão);

2) mudança de sentido – o uso da expressão metafórica (com sentido simbólico, figurado, modificado) evoca um sentido diferente daquele primeiro que o termo apresenta na língua (com sentido próprio ou literal, a primeira entrada lexical no dicionário);

3) hipótese da transferência – a expressão linguística no uso metafórico troca de sentido porque é transferida do contexto habitual (referência ao movimento de queda em sentido literal) para um contexto de uso incomum (referência a uma forma de deslocamento em sentido discursivo);

4) hipótese da similitude ou da analogia – a relação de similaridade na construção de metáforas é uma propriedade preexistente nos referentes selecionados pelo falante, como ocorre no exemplo do Bugio, em que a analogia entre as expressões decorre de suas aproximações dentro do campo semântico que engloba os sentidos de movimentação e deslocamento.

E o efeito de riso metafórico? Este vem da exploração que o autor faz dos sentidos (i) discursivo por meio da voz do personagem Bugio no primeiro quadro da tirinha e (ii)literal através da voz do personagem Tucano na finalização dessa história rápida, assim como das ilustrações associadas a cada um dos sentidos.
Leia mais sobre metáfora: FERREIRA, Alice Maria de Araújo. Questões sobre a metáfora: definições e discussões. Polifonia, n. 18, p. 131-144, 2009.
Fonte: http://mundotexto.wordpress.com/category/piadas-linguisticas/?blogsub=confirming#blog_subscription-2

Eventos de Linguística e Letras – setembro e outubro 2013

SETEMBRO

01 a 03 – I Encontro Brasileiro de Pesquisa em Cultura: Pesquisa e produção do conhecimento para além da Universidade, na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo, localizada no bairro de Ermelino Matarazzo, na Avenida Arlindo Bettio nº 1000, São Paulo – SP.

https://www.ufmg.br/ead/seminario/style/banner_site.png

02 a 04 – V Seminário Internacional de Educação a Distância: meios, atores e processos, no Centro de Apoio à Educação a Distância (CAED) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
03 a 06 – VII Simpósio Internacional de Estudos de Gêneros Textuais (VII SIGET), promovido por Universidade Federal do Ceará (UFC) e Universidade Estadual do Ceará (UECE), em Fortaleza-CE.
04 a 06 – I Simpósio Brasileiro de Interpretação (SIMB), na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo.
09 a 12 – X Congresso Brasileiro de Linguística Aplicada (X CBLA),na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza (CCMN), Avenida Brigadeiro Trompowski s/n, Cidade Universitária – Ilha do Fundão, Rio de Janeiro – RJ.
09 a 12 – 19º Congresso Internacional ABED de Educação a Distância (19º CIAED): Bons Profissionais Fazem Bons Programas de EAD: Como Estamos?, CENTRO DE CONVENÇÕES DA BAHIA, Av. Simon Bolivar S/nº, Salvador – Bahia – Brasil – Cep: 41750-230.
09 a 13 – X Colóquio Antero de Quental – Confronto do pensamento ético luso-brasileiro: Séculos XX e XXI, na Universidade Federal de São João del-Rei, Praça Frei Orlando, 170, Centro, São João del-Rei, Minas Gerais, CEP: 36307-352.
11 a 13 – Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura (IX ENECULT), na Reitoria da Universidade federal da Bahia (UFBA),  PAF III (Campus de Ondina), Salvador-BA.
11 a 14 – X Congresso de Lusitanistas: Migração e Exílio, na Universidade de Hamburgo, Alemanha.
16 a 19 – III Seminário Brasileiro de Poéticas Orais, no Salão de Atos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre-RS.
16 a 20 – Fazendo Gênero 10 – Desafios atuais dos feminismos, na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis – SC.
23 a 25 – Seminário Primavera dos Centenários: Rubem Braga e Vinícius de Moraes, na Universidade Estadual de Londrina (UEL), Londrina – PR.
23 a 28 – VI Conferência Linguística e Cognição – VI Colóquio Nacional Leitura e Cognição – XIV Semana Acadêmica de Letras, na Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), Av. Independência nº 2293 Bairro Universitário, Santa Cruz do Sul – RS, CEP 96815-900.
25 a 27 – V Encontro de Estudos da Linguagem e VI Encontro Internacional de Estudos da Linguagem (Enelin 2013), na Universidade do Vale do Sapucaí (UNIVAS), Av. Pref. Tuany Toledo nº 470, CEP 37550-000, Pouso Alegre – MG.
25 a 27 – 7º Encontro Internacional de Letras – Literatura e Línguística: Linguagens do Século XXI, na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), Campus de Foz do Iguaçu e na Fundação Cultural de Foz do Iguaçu.
29/09 a 02/10 – IV Congresso Internacional de Turismo Idiomático, na Fundação Armando Alvares Penteado, São Paulo – SP.

OUTUBRO


08 a 11 – 19º Intercâmbio de Pesquisa em Linguística Aplicada e 5º Seminário Internacional de Linguística (InPLA-SIL 2013),no Campus Anália Franco, da Universidade Cruzeiro do Sul, Av. Regente Feijó, 1295, São Paulo – SP.
14 e 15 – II Jornada de Estudos Saussurianos, no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL-UNICAMP), Campinas – SP.
15 a 17 – VIII Seminário Nacional sobre Ensino de Língua Materna e Estrangeira e de Literatura (VIII SELIMEL), na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), em Campina Grande – PB.
15 a 18 – VI Seminário de Estudos em Análise do Discurso: 1983-2013 – Michel Pêcheux: 30 anos de uma presença, na Sala II do Salão de Atos da Reitoria, Av. Paulo Gama s/n, Campus Central, Porto Alegre – RS.
16 a 18 – 4º  Colóquio Brasileiro de Prosódia da Fala, no Maceió Atlantic Suítes, Maceió – AL.
16 a 18 – Décimo Sexto Congresso Internacional de Humanidades: O poder da comunicação em contextos latino-americanos, no Instituto de Letras da Universidade de Brasília, Campus Universitário Darcy Ribeiro ICC sul Bloco B  sala 120 sobreloja, CEP 70910-900, Asa Norte, Brasília – DF.
22 a 24 – Congresso Internacional do Trabalho e Utopia no século XIX: sujeitos e experiências, no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL-UNICAMP), Campinas – SP.
23 a 25 – XXI Seminário do Centro de Estudos Linguísticos e Literários do Paraná (CELLIP), na Universidade Estadual do Paraná, Campus FAFIPAR, Paranaguá (UNESPAR-FAFIPAR).