sábado, 20 de abril de 2013

Alfabetização: como trabalhar linguagem e reflexão sobre o sistema juntos


Saiba como articular as práticas de leitura e de produção de texto à reflexão sobre a escrita durante projetos e sequências didáticas

Por Elisângela Fernandes
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Combinação perfeita. Foto Paulo Vitale. Ilustração: Anna Cunha
Ao pesquisar sobre um animal, as crianças aprendem sobre ele e sabem o que escrever quando o professor pede que nomeiem as partes do seu corpo. Elas podem, assim, refletir sobre o sistema alfabético e definir que letras usar e em que ordem.
"O que Chapeuzinho Vermelho pergunta primeiro ao Lobo: que olhos grandes você tem ou que orelhas grandes você tem?", indaga a professora após apresentar o conto à turma do 1º ano. Resolver esse problema é um grande desafio para quem está no início da alfabetização. Afinal, responder com segurança exige voltar ao texto e buscar as palavras olhos eorelhas, que começam e terminam com as mesmas letras. Propostas como essa, que tem por objetivo levar à reflexão sobre o sistema de escrita durante a leitura e a produção de texto, ainda são raras nas nossas salas de aula.

A tarefa de pensar sobre o funcionamento da escrita tem ficado restrita às atividades permanentes, com listas e textos memorizados, como cantigas e parlendas. Nada contra elas - que podem e devem continuar na rotina. Mas por que não aproveitar os momentos em que as crianças estão lendo ou produzindo um texto sobre um animal na aula de Ciências, por exemplo, para também levá-las a pensar sobre os aspectos do sistema alfabético e as relações grafofônicas? "Combinar a reflexão sobre a escrita com as práticas sociais de leitura e produção de texto é muito mais efetivo", diz Beatriz Gouveia, coordenadora de projetos do Instituto Avisa Lá, em São Paulo.

Uma boa proposta de alfabetização requer planejamento e pressupõe saber como os alunos escrevem (leia a reportagem), organizar a rotina em projetos, sequências e atividades permanentes e escolher bons materiais de leitura e estudá-los. Além disso, não podem faltar em sala as letras do alfabeto, a lista de nomes dos estudantes, livros e os textos da garotada. Assim, na hora de escrever, todos poderão se apoiar em palavras conhecidas ou verificar em fontes oficiais se as antecipações feitas estão corretas.

Veja um exemplo: os alunos leem a capa de um livro ilustrado com um elefante e cujo título éAnimais. Ao ler, eles antecipam - com base apenas na imagem - que a obra se chama Elefantes. Para que se apoiem no texto, você pergunta qual a primeira letra da palavra elefantes. Alguém responde "E", volta ao texto para ver se está correto e se depara com o A. "É como um jogo: se a antecipação não é adequada para resolver o problema, é preciso procurar outras pistas", explica Diana Grunfeld, presidente da Rede Latino-Americana de Alfabetização, na Argentina.

À medida que avançam em suas hipóteses de leitura e escrita, os estudantes desenvolvem, com base no trabalho do professor, alternativas de verificação cada vez mais sofisticadas. Inicialmente, diferenciam as figuras dos textos. Depois, imaginam que só é possível ler algo com mais de três letras. Por fim, fazem análises qualitativas, verificando principalmente as letras iniciais e finais de cada palavra. A todo momento, devem estar tranquilos para escrever como sabem e cientes de que terão todo o ano para aprender.

Para que você possa ajudar ainda mais a turma nesse trajeto, nas páginas seguintes, mostramos na forma de história em quadrinhos seis atividades de reflexão sobre o sistema inseridas em situações de leitura e de produção de texto. Elas fazem parte da sequência didática A Diversidade dos Animais, elaborada pela equipe de Práticas de Linguagem da Divisão de Educação Primária de Buenos Aires, na Argentina. A intervenção do professor, como você verá, é essencial para que o aluno compreenda como se escreve.

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