terça-feira, 26 de outubro de 2010

Pássaros Grandes Não Cantam (livro)


Autor: Luíz Horácio (colega do mestrado)
Editora Global
Edição: 1ª
Formato: 16X23
Nº de Páginas: 224
R$29,90


Este romance conta várias histórias que se entrelaçam no objetivo principal de expor a natureza humana na plenitude de suas fraquezas, sua morbidez, sua crueldade, mas também de sua enorme capacidade de amar, que no cenário do pampa gaúcho se revela sempre de modo muito peculiar - para o bem ou para o mal. Como em seus dois romances anteriores que integram a trilogia que com esta obra se encerra, Luíz Horácio confere à natureza não apenas o papel de cenário, de pano de fundo para o desenvolvimento da trama, mas também de personagem importante. E esse ingrediente fantástico adiciona ao contexto da narração um componente de transcendência, metafísico mesmo, que, na visão do autor, é indissociável do ethos gaúcho, especialmente na região da fronteira, onde a cena se desenrola.
Outra questão que Luíz Horácio valoriza, ou, talvez melhor, ironiza em suas histórias é o arraigado preconceito racial que ele, negro, garante ter encontrado mais forte ainda na capital Porto Alegre, quando a ela retornou em 2008, depois de dezoito anos vivendo no tropical Rio de Janeiro. A manifestação desse preconceito, descreve o autor em passagens impiedosamente críticas, é mais uma característica da natural propensão do temperamento gaúcho para o conflito.
Diz a teoria literária que aquele que escreve, o autor implícito, não deve ser confundido com a pessoa física do autor, pois apenas o primeiro está presente na obra. É necessário distinguir o autor como elemento da vida, o autor-pessoa, do autor como elemento da obra, o autor-criador. Luíz Horácio, mestrando em Letras aos quase cinquenta anos de idade, discorda veementemente dessa teoria: "Eu próprio não percebo a distinção quando escrevo meus livros. Estou por inteiro na minha obra". Pois essa obra revela um ser humano que coloca uma imaginação fértil a serviço de uma percepção extremamente sensível da crueldade do mundo em contraponto com a capacidade e a necessidade de amar dos habitantes deste vale de lágrimas.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

A cada 14 dias morre uma língua




por Kelly de Souza - 21/10/10
http://cultura.updateordie.com/2010/10/21/a-cada-14-dias-morre-uma-lingua/

Ele não é Indiana Jones, mas está perto desse perfil. David Harrison é um “caçador de línguas”, ou talvez devêssemos chamá-lo de um salva-línguas, ou quem sabe de um garimpeiro de palavras, sei lá, chame-o do que quiser, o fato é que ele é o responsável pelo National Geographic Society’s Enduring Voices Project, e pelo Living Tongues Institute for Endangered Languages, projetos com objetivos parecidos: rastrear os cantos mais afastados do mundo em busca de línguas desconhecidas, e tentar resgatá-las, ou registrá-las, evitando o seu total desaparecimento. Harrison é um linguista com doutorado pela Universidade de Yale, professor do Swarthmore College, autor de vários livros, entre eles The Last Speakers (2009), tendo longa experiência em resgate de línguas, com trabalhos realizados na Sibéria, Mongólia, Bolívia, Índia e América Nativa.

Existem hoje perto de 7 mil línguas sendo usadas no planeta. É possível que em 2100 mais da metade delas tenha desaparecido, levando consigo pedaços da civilização, riquezas culturais, conhecimentos e história. É através da língua que as pessoas falam e se comunicam, e muito do que sabemos sobre a natureza humana é codificado apenas oralmente. Quando a língua desaparece, desaparece junto grande parte da sua cultura, que provavelmente não consegue ser expressa em outro idioma. A cultura indígena talvez seja o exemplo mais cabal. As comunidades indígenas interagem há milhares de anos com seu meio e transferem a ele profundos conhecimentos sobre as regiões que habitam, sobre as plantas, animais e ecossistemas, sendo que muito desse conhecimento não foi ainda registrado pela Ciência. Estudar a língua deles pode, assim, gerar grandes benefícios ambientais e esforços de conservação. A história mostra que línguas de comunidades poderosas, muitas vezes opressoras, e em geral asfixiantes culturalmente, se espalharam ao longo dos tempos sufocando as línguas de culturas minoritárias. A diversidade de línguas de um país pode ser um grande tesouro e um diferencial cultural de grande impacto futuro (existe mais diversidade de línguas na Bolívia, por exemplo, do que em todo milenar continente europeu).

Recentemente uma língua “oculta”, denominada koro, foi encontrada na região nordeste da Índia, em uma tribo isolada (comum na Índia). A koro é falada por cerca de mil pessoas e pertence a família linguística Tibeto-Burman, que inclui 400 idiomas, tais como o tibetano e o birmanês. Uma equipe do Projeto Enduring Voices descobriu essa língua em 2008 quando buscava conhecer na região outras duas línguas, a Aka e a Miji. Chegando a região e fazendo gravações com as tribos locais, descobriram uma terceira língua, a koro. David Harrison e esse reduzido grupo de profissionais, especializados em resgatar línguas em extinção, podem um dia estar nas aldeias da Amazônia, e em outro nos confins da Sibéria transcrevendo fonemas, gravando conversas dos habitantes locais, filmando seus costumes e sua cultura (canções, lendas, etc.) que possivelmente nunca haviam sido registrados antes. Como descreveu Harrison em entrevista ao jornal El Mundo e à Efe, “A língua faz parte da identidade e da cultura de um povo, por isso quando ela se extingue a comunidade e nós todos perdemos sua história, sua mitologia, seus costumes, sua poesia e a expressão de sua criatividade”. Uma das indústrias sempre preocupada com a extinção linguística é a farmacêutica, que terá cada vez mais dificuldades de pesquisar novos princípios ativos nas florestas se não puder se comunicar com as comunidades locais.

Na América Latina, três regiões são as mais ameaçadas por esse tipo de desaparecimento: uma localizada ao Sul, no centro do Paraguai, outra no México e uma terceira região, mais sensível, que se espalha pelos Andes até a Amazônia, abrangendo especialmente países como a Bolívia. Harrison fala da inevitabilidade de extinção nessas regiões: “A América Latina é uma das regiões mais ricas em diversidade linguística, mas já há um avançado estágio de extinção de muitas delas, que torna impossível serem salvas. É quase certo que vão desaparecer”. A situação de 48 línguas latino-americanas é “grave”, estando algumas já em avançado estágio de desaparecimento, como a vilela, na Argentina, que conta com pouco mais de dois indivíduos que a falam, ou da ofayé, no Brasil, com apenas duas dezenas de nativos que se comunicam através dela. Outro exemplo está na Bolívia, região em que a equipe de Harrison estudou a kallawaya, que é falada por cerca de 100 pessoas em rituais religiosos e práticas medicinais, sendo considerada uma língua secreta, só transmitida de avós para netos. Harrison acha que a chave para a salvação de muitas delas está nas gerações mais jovens. “Eles tem o poder de decidir se mantêm sua língua viva. Depende se são incentivados a usá-la ou se sentem pressionados (ou envergonhados) de se comunicarem através dela”, diz Harrison.

Existem vários projetos que caminham na direção da preservação linguística, como o da ONU (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), ou da Unesco, ou mesmo do Ministério da Educação do Brasil, que faz um trabalho nas comunidades indígenas. Mas tudo parece muito pouco comparado à velocidade com que o processo de extinção avança. Em 500 anos de história do Brasil perto de 85% das línguas indígenas já desapareceram (segundo a Unesco, todas as línguas indígenas brasileiras correm algum risco de desaparecer). Na Europa são faladas 230 línguas, enquanto no continente asiático são mais de 2000, e na África, das 1400 línguas existentes 550 poderão sumir em breve, segundo relatório da Unesco. Um exemplo típico do imperialismo linguístico é o australiano. Na Austrália, nos últimos 100 anos, foram extintas centenas de línguas aborígenes e outras tantas estão em processo de desaparecimento em decorrência das políticas de assimilação cultural em voga até a década de 70. O país priorizava o idioma inglês como língua oficial em detrimento das línguas minoritárias. Pura herança colonialista.

A transformação linguistica é um fenomeno crescente no século XX e XXI, como mostra o estudioso David Crystal em A Revolução da Linguagem (2006). Os países que têm consciência sobre a importância das línguas minoritárias são poucos. Um deles é a Irlanda, que nos séculos XVII e XVIII, com a ocupação inglesa, viu a língua galesa ser proibida. Todavia, os irlandeses lutaram pela preservação e continuaram se comunicando, às escondidas, em galês, sendo que em 1921 a língua galesa voltou a ser aceita sem restrições e passou a ser ensinada nas escolas. A chamada Lei da Língua Galesa, de 1993, estimula a difusão do idioma, hoje falado por cerca de 19% da população. Quem já foi a Barcelona, andou pelas ruas e ouviu a maioria da população se comunicando em catalão pode achar que isso é um atraso. Não é. Além da luta política regional, existe a luta pela preservação da língua, que suporta costumes milenares e mantem viva uma das mais ricas culturas da Europa. Não se trata de extinguir a globalização, mas de não deixar que ela semeie a pura e simples eliminação das culturas étnicas minoritarias, lastreadas em geral por suas línguas e dialetos.

Kelly de Souza é jornalista colaboradora da Revista da Cultura e Blog da Cultura.

Manguel mostra porque ler é a única e rica saída






por Kelly de Souza - 22/09/10
http://cultura.updateordie.com/category/sociedade/

Aqueles que vivem da palavra, que dela tiram seu sustento, ou mesmo aqueles que fazem da leitura uma forma única de achar graça na vida (viciados em letras, como eu), vez ou outra se perguntam: por que, afinal, encontramos nos livros tanta razão de ser, de existir e de continuar? Por que sem eles nossa vida é sempre “pouca coisa”, é sempre menor? Por que escrever ou ler chega a ser para alguns um mantra, um vício, um ópio? Não há respostas definitivas, como sempre. Existem tantas questões envolvendo a busca frenética do ser humano pela palavra, que a própria palavra é incompleta ou insuficiente para explicar nossa paixão por ela. Alfred Doblin, autor do exuberante Berlin Alexanderplatz, certa vez respondeu a uma pergunta que questionava a razão que o levava a escrever. Respondeu: “Não me interessa o livro concluído, apenas o livro que está por vir”.

Para Doblin, escrever é um processo, uma ponte, um caminho que nos leva do presente ao futuro, um fluxo constante de linguagem em que as palavras dão forma à realidade. Quando em 1909 o poeta italiano Filippo Tommaso Marinetti (A Cozinha Futurista) propôs a Doblin a adoção de um método futurista de construção poética, Doblin lhe respondeu: “Cuide de seu futurismo, que eu vou cuidar do meu doblinismo”. Para ele, o caminho não era o método, mas a paixão (“Eu leio, como a chama lê o lenho”).

Parte da resposta sobre nossa ensandecida necessidade de ler e escrever pode ser encontrada na obra de Alberto Manguel, A Cidade das Palavras. Escritor argentino, cidadão canadense, criado em Israel e morando hoje na França, Manguel é um dos mais importantes autores de lingua hispânica, embora tenha aprendido alemão e inglês (línguas em que escreve) antes do espanhol. Trata-se acima de tudo de um “pensador da palavra”. Depois de passar sua adolescência na Argentina, onde atuou como leitor para um cego Jorge Luiz Borges, foi editor em Londres, Paris e Milão. Manguel, aos 62 anos, vive hoje em Mondion (vilarejo francês), numa antiga casa paroquial (anexa a uma igreja do século XII), onde instalou sua biblioteca de 35 mil volumes.

“A Cidade das Palavras” é um ciclo de palestras em que o autor discute o hábito humano de ler, ouvir e contar histórias (para ele essas habilidades são por definição a razão de sermos de fato humanos). Numa entrevista à Revista Veja, em 1999, quando perguntado por que a leitura ainda é tão importante na sociedade, Manguel foi cirúrgico: “A atual cultura de imagens é superficialíssima, ao contrário do que acontecia na Idade Média e na Renascença, épocas também marcadas por uma forte imagética. Pense, por exemplo, nas imagens veiculadas pela publicidade. Elas captam a nossa atenção por apenas poucos segundos, sem nos dar chance para pensar. Essa é a tendência geral em todos os meios visivos. Assim, a palavra escrita é, mais do que nunca, a nossa principal ferramenta para compreender o mundo. A grandeza do texto consiste em nos dar a possibilidade de refletir e interpretar. Prova disso é que as pessoas estão lendo cada vez mais, assim como mais livros estão sendo publicados a cada ano”.

Perguntado se quem lê muito necessariamente escreve bem, Manguel não vacilou na resposta: “Muitos escritores preferem não ler enquanto estão escrevendo, para não influenciar seu trabalho. Mas só há uma forma de aprender a escrever bem: lendo. Lendo você pode descobrir como os escritores fizeram suas obras e ter noção do processo da escrita. Mas não há regras. O escritor inglês Somerset Maugham dizia que “existem três regras para escrever bem. Infelizmente ninguém sabe quais são elas”.

Em outra entrevista, feita no começo deste mês para o jornal El País, Manguel também autor do fascinante Uma História da Leitura, ensaio sobre como a literatura resistiu a tudo e a todos, define bem a ideia central da leitura no século XXI. Instigado sobre as facilidades do mundo contemporâneo e a pasteurização da literatura, ele concluiu: “Vivemos numa época em que valores como brevidade, superficialidade, rapidez e simplicidade são absolutos. Nunca havia sido. Os valores que desenvolveram nossa sociedade foram os da dificuldade (para aprender a lidar com os problemas), da lentidão (para refletir e não agir impulsivamente) e da profundidade (para sabermos investigar um problema). Se abrimos mão desses valores obtemos reações banais, superficiais, que podem ser facilmente manipuladas”. Bingo!

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As fotografias que ilustram esse texto são de autoria do fotógrafo húngaro André Kertész (1894-1985), tiradas entre 1920 e 1970, que integram o livro On Reading. A obra mostra pessoas de diferentes classes e idades, em diferentes partes do mundo e cenários, completamente entregues à atividade e prazer da leitura.

Kelly de Souza é jornalista colaboradora da Revista da Cultura e Blog da Cultura.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Twitter chega à sala de aula como ferramenta para aprender técnica literária


Escola usa regra básica do microblog, o limite de 140 caracteres por mensagem, para que alunos desenvolvam narrativa e concisão em minicontos
18 de outubro de 2010
Reportagem Estadão
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20101018/not_imp626165,0.php

Alunos do 8ª série do ensino fundamental Talissa Ancona Lopez, Pedro Rubens Oliveira e Davi Yan Schmidt Cunha (à dir.): literatura em microcontos
"O telefone tocou. Seria ele? O que ele queria? Ela já não havia dito que era o fim? Ela atendeu o telefone. Não era ele, era pior." Em apenas 140 caracteres, o permitido para cada post no microblog Twitter, adolescentes aprenderam, em sala de aula, a usar a rede social como plataforma para contar pequenas histórias como essa.

A técnica literária, conhecida como microconto, nanoconto ou miniconto, foi praticada pelos alunos do Colégio Hugo Sarmento no perfil @hs_micro_contos do Twitter.

Para escrever uma história coerente em tão poucas palavras, os estudantes tiveram de ficar atentos à narrativa, à concisão e ao sentido do que era postado, algumas habilidades já dominadas pelos adolescentes, acostumado com a rapidez da internet.

Embora o Twitter seja usado com mais frequência para relatos e comentários do cotidiano, não ficcionais, os microcontos já têm adeptos na rede social. Há perfis totalmente dedicados à técnica e usuários que costumam escrever mini-histórias, como a cantora Rita Lee (@LitaRee_real).

"Cada história precisava ter um começo, meio e fim. Não dava, por exemplo, pra ficar descrevendo o cenário", conta Pedro Rubens Oliveira, de 13 anos, que participou do projeto.

O professor de língua portuguesa do ensino fundamental Tiago Calles, que propôs o exercício na escola, conta que aproveitou os limites de espaço da rede para trabalhar a estrutura da narrativa e as poesias concretas, abordadas em aula, de uma maneira diferente. "O fato de envolver uma outra plataforma interessou os alunos, que se sentiram mais motivados", afirma.

Talissa Ancona Lopes, de 13 anos, conhecia pouco do Twitter antes de usar a plataforma na escola. "Tive um perfil por algum tempo, mas depois excluí", conta. Dona de perfis em outras redes sociais, ela encontrou uma nova utilidade para a rede. "É mais divertido aprender dessa maneira."

A diversão costuma estar associada às redes sociais. Segundo a assessora de tecnologia educacional da Escola Viva, Elizabeth Fantauzzi, os estudantes têm dificuldade para enxergar o Twitter como uma ferramenta de aprendizado. "Para eles, aquilo não pode ser usado em aula, mas é um material muito rico se for aproveitado com um sentido pedagógico", diz.

Tecnologia. Não só a familiaridade com a internet estimulou a exploração do tema em sala de aula, mas também a fluência na linguagem tecnológica dos alunos. Na Escola Viva, estudantes do fundamental fizeram um projeto em que usaram conversas por mensagem de celular para montarem micro-histórias.

"Os adolescentes têm fluência na linguagem digital. Cabe aos professores aproveitar isso e aplicarem em sala de aula", afirma Elizabeth.

A intenção das escolas é transformar a facilidade com a escrita da internet - com seus símbolos e abreviações - em habilidades também nas redações mais acadêmicas. No Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) do ano passado, o desempenho dos estudantes na área de Linguagens e Códigos foi justamente o que mais deixou a desejar. Em nenhum colégio a média de 700 pontos - em uma escala que vai de zero a mil - foi atingida.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Livro: LINGUAGENS ESPECIALIZADAS EM CORPORA: modos de dizer e interfaces de pesquisa



Autoras:
Cristina Lopes Perna, Heloísa Koch Delgado, Maria José Finatto (Orgs.)

Lançamento no Encontro Brasileiro de Lingüística Computacional e Encontro de Lingüística de Corpus - PUCRS
outubro 2010

Disponível no site: http://www.pucrs.br/edipucrs/

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Aprenda a tuitar com o mestre das frases curtas


13/08/2010
Publicação da Livraria da Folha

Se você é acha que frase curta é sinônimo de pouco conteúdo, certamente não conhece Karl Kraus (1874-1936), escritor austríaco que, por suas frases críticas e espirituosas, arrastaria milhares de seguidores no microblog.

Kraus encontrou na brevidade dos aforismos a forma ideal da sátira.
O escritor, cruel com seus adversários --políticos, jornalistas e figuras da cultura vienense--, usou a sátira como poucos na história da literatura.
Sobre o gênero que o tornou famoso, escreveu: "Há escritores que já conseguem dizer em 20 páginas aquilo para o que às vezes preciso de até duas linhas."

"Aforismos" (Arquipélago Editorial, 2010), organizado por Renato Zwick, reúne alguns desses textos curtos e eficientes que passaram mais de 20 anos sem publicação em língua portuguesa.
Boa parte dos escritos foram retirados do jornal "Die Fackel" ("A Tocha", em português), fundado por Kraus em 1899. Conheça alguns de seus aforismos, trechos extraídos do exemplar.
O aforismo jamais coincide com a verdade; ou é uma meia verdade ou uma verdade e meia.

O Diabo é um otimista se acredita que pode tornar os seres humanos piores.

Se devesse acreditar em algo que não vejo, ainda preferia os milagres aos bacilos.

A escola sem notas deve ter sido inventada apor alguém que se embriagou de vinho sem álcool.

"O que o senhor tem contra X?" perguntam geralmente aqueles que têm algo de X.

Que bonito quando uma garota esquece sua boa educação!

Quando uma cultura sente que está chegando ao fim, manda chamar um padre.

Alguns compartilham meus pontos de vista comigo. Mas eu não os compartilho com eles.

Nada é mais insondável do que a superficialidade da mulher.

O amor do próximo não é o melhor, mas em todo caso é o mais cômodo.

A sátira não escolhe nem conhece objetos. Ela surge do fato deles e eles se imporem a ela.

O fraco duvida antes da decisão. O forte, depois.

Os pensamentos são isentos de impostos. Mas acabamos tendo problemas do mesmo jeito.

A psicanálise é aquela doença mental que se toma por sua terapia.

A psicologia é o ônibus que acompanha uma aeronave.


"Aforismos"
Autor: Karl Kraus
Editora: Arquipélago Editorial
Páginas: 208
Quanto: R$ 31,20 (preço promocional por tempo limitado)
Onde comprar: pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Livraria da Folha

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

PRODUÇÃO TEXTUAL NA UNIVERSIDADE


Livro de Désirée Motta-Roth e Graciela Rabuske Hendges

No sistema universitário brasileiro, a política de financiamento de bolsas de iniciação científica, de bolsas de pós-graduação e de projetos de pesquisa se baseia no conhecido ditado "Publique ou suma!" das universidades americanas. Essa pressão para escrever e publicar tem levado alunos, professores e pesquisadores universitários a um esforço concentrado na elaboração de textos de qualidade na forma de artigos para periódicos acadêmicos e livros para editoras como meio de assegurar espaço profissional. Desse modo, na cultura acadêmica, a produtividade intelectual é medida pela produtividade na publicação. Este livro, portanto, tem por objetivo trazer informações sobre a prática acadêmica de publicação, enfocando os gêneros discursivos mais comumente adotados no contexto universitário.

Muitos títulos sugestivos como Redação técnica, Como escrever textos ou Como fazer uma monografia são publicados no Brasil. No entanto, a abordagem de Produção textual na universidade tende a se concentrar não apenas na forma dos textos, mas também no seu conteúdo e na retórica (nos efeitos que se pretende causar no leitor).

Este livro adota a abordagem sociointeracionista do letramento científico e se concentra no desenvolvimento de competências escritas do aluno para interagir com o mundo na posição de escritor e leitor de textos científicos. Sua pedagogia está focada no uso da linguagem para determinada "ação acadêmica" de avaliar, relatar ou descrever informações e dados gerados em pesquisa, para influenciar o leitor e, consequentemente, a prática acadê­mica subsequente de pesquisa e de publicação em nível científico-acadêmico.

Sumário

Nota do Editor
Apresentação
1 Publique ou Pereça
2 Resenha
3 Projeto de pesquisa
4 Artigo acadêmico: introdução
5 Artigo acadêmico: revisão da literatura
6 Artigo acadêmico: metodologia
7 Artigo acadêmico: análise e discussão dos resultados
8 Abstract/Resumo acadêmico
Referências dos exemplos
Bibliografia